sábado, 22 de setembro de 2018

A ESTÂNCIA MISSIONEIRA DA REDUÇÃO DE YAPEYU

Esta postagem homenageia a José Afonso de Vargas, que começou a pesquisa sobre a estância jesuítica de Yapeyu e continua participando de sua pesquisa.

1. A Estância Santiago

A postagem de hoje é sobre o projeto ‘A Estância Missioneira da Redução de Yapeyu’, começado por José Afonso de Vargas na sua dissertação de mestrado na UNISINOS (A estância de Yapeyu, 2015), projeto que é continuado pela equipe de arqueologia do Instituto Anchietano de Pesquisas: José Afonso de Vargas, Jairo Henrique Rogge, Marcus Vinicius Beber, Suliano Ferrasso e Ana Meira, do PPG de Arquitetura da UNISINOS. A pesquisa bibliográfica é de Pedro Ignácio Schmitz. As ilustrações, quando não indicado de outra forma, são da equipe.

O projeto tem uma parte bibliográfica que informa sobre a trajetória e funcionamento da estância, e uma parte arqueológica que documenta a materialidade das instalações correspondentes. A postagem usa fragmentos de ambos os aspectos.

As missões dos jesuítas entre os guaranis, conhecidas como reduções, foram instaladas na Bacia do Rio da Prata, a partir de 1610. Cada uma reunia algumas dezenas de caciques (60, 70 ou mais caciques) com sua gente, para formar um núcleo populacional com mais de mil indivíduos. As tribos tinham vivido até então em pequenas aldeias de poucas casas de palha, explorando uma área de mato, onde, para sua manutenção, cultivavam plantas tropicais, caçavam e pescavam.

Durante as primeiras décadas de sua existência, as missões se apoiavam neste sistema de abastecimento, que se mostrou cada vez mais desajustado para a população reunida, resultando em grandes fomes. Para substituir a caça, que era aleatória e pouco rendosa, tão logo foi possível se introduziu algum gado, trazido de vacarias e estâncias espanholas da região de Corrientes e Entre Rios, gado que era mantido junto aos povoados. Com isto, algumas reduções, tanto das margens do rio Paraguai e do rio Paraná, como do rio Uruguai, conseguiram algum alívio alimentar.

Mas as bandeiras paulistas da década de 1630 e 1640 interromperam o desenvolvimento e provocaram um período de destruição, de instabilidade e de movimentação desordenada dos povoados. Só a partir de 1670 foi encontrada uma fonte regular de abastecimento de carne, que foi a Vacaria do Mar, nascida dos pequenos rebanhos abandonados pelas reduções do Tape quando, na década de 1630, fugiram para a Argentina diante da arrasadora frente bandeirante.

O Governador de Buenos Aires, reconhecendo a origem missioneira do gado da Vacaria do Mar, determinou que ele fosse reservado para alimentação dos índios das missões. A partir de então, anualmente, ou de dois em dois anos, cada missão buscava ali os animais necessários para alimentar seus moradores. Afirma-se que o conjunto das reduções consumia ao redor de cem mil vacas por ano.
Esta movimentação também corresponde à redução de Yapeyú, fundada em 1627, uma das maiores e a mais meridional das missões. Ela estava situada no lado argentino do rio Uruguai em frente à desembocadura do rio Ibicui.

Em 1657 a redução de Yapeyu criou, no Rincão produzido entre os rios Ibicui e Uruguai, o primeiro posto de reunião de gado selvagem, que se chamou Estância Santiago. Em 1690 ela contava 70.436 vacas, a maior parte trazida da Vacaria do Mar

A estância Santiago permaneceu neste lugar até 1701, quando foi absorvida pela nova sede, chamada Estância São José, na bacia do rio Quaraí.

As instalações da chamada Estância Santiago se compõem de duas construções: o posto de administração na margem do rio Uruguai, em frente à redução, chamado O Aferidor; este prédio está conservado e continua sendo habitado. A estrutura de criação de gado, com as ruinas de uma casa, de três currais e três potreiros está mais arruinada. 

É o que mostramos a seguir:

Modificado de: Maeder; Gutierrez, 2009, p. 26.

O espaço das 30 reduções guaranis no começo do século XVIII quando se criaram ou estabilizaram suas estâncias de criação de gado. A mais extensa era a da redução de Yapeyu.

Fonte: FURLONG, 1962, p. 188.
Vista da redução de Yapeyu na margem direita do rio Uruguai.


A estância da redução de Yapeyu, com terrenos no lado direito e esquerdo do rio Uruguai. A primeira sede dessa grande estância se chamava estância Santiago, que durou até ser incorporada na nova estância São José (Queimada), criada em 1701. Dentro dessa estância se criou, em 1731, um espaço reservado para gado de corte, chamado São José Novo, que ficava mais longe da redução. 


Durante os primeiros anos as estâncias se abasteciam de gado das vacarias, onde os animais permaneciam selvagens. A primeira foi a Vacaria do Mar. No começo do século XVIII, quando esta se tornou inviável, foram criadas, sucessivamente, a Vacaria de San Gabriel, a vacaria do rio Negro e a Vacaria dos Pinhais. Ao se tornarem inviáveis por causa da depredação causada por índios, portugueses e castelhanos, foram criadas e ou consolidadas as estâncias, onde o gado tinha dono e era manejado.

Acervo IAP

O
Aferidor, a casa de administração da estância de Santiago, na beira do rio, em frente à redução que está do outro lado. A casa continua habitada.

Acervo IAP

Vista dos fundos de O Aferidor mostrando melhor a técnica construtiva típica das reduções.


As estruturas da Estância Santiago. No encaixe, a relação entre a redução, O Aferidor e a Estância Santiago.

Acervo IAP
As fundações da casa em que moravam os índios encarregados dos animais. As paredes da casa eram de adobe e a cobertura era de palha. 


A planta dessa construção acima fotografada.


A planta dos currais em que se fazia o manejo do gado.


O reforço em pedra da base da estacada de troncos do grande curral circular.

Referências Bibliográficas

FURLONG, G. Misiones y sus pueblos de guaranies. Buenos Aires: Imprenta Balmes, 1962.

MAEDER, E.; GUTIERREZ, R. Atlas territorial y urbano de las misiones jesuíticas de guaraníes. Argentina, Paraguay y Brasil. Sevilla: Instituto Andaluza  del Patrimonio Histórico. 2009. 

Um comentário:

  1. Boa tarde. Por gentileza, necessito de informações que talvez vocês possuam. No Livro de Raul Pont, ele cita que tropeiros vindos da Argentina pelo passo do Santana Velho, seguia-se em direção ao cerro do Jarau...: é mesmo Cerro do Jaru em Quaraí?
    Grato pela atenção,
    Francisco Stein
    contato@steinmapas.com

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