Em 2013 a ASAV pediu o prédio do Centro de São Leopoldo para
o conjunto de suas obras sociais CCIAS. Então vieram para o Campus os gabinetes
dos pesquisadores, a biblioteca, o herbário e a sala de Memória Indígena, que
foram instalados na galeria B05; a sala de Memória Sacra ocupou uma grande sala
ao lado da Capela Universitária no andar térreo da Biblioteca. No momento foi
impossível desocupar o grande espaço do mesmo piso destinado ao Acervo
Arqueológico. Este, que estava distribuído por várias salas do prédio do centro
da cidade, foi reacomodado no quinto andar daquele prédio, esperando sua
oportunidade.
Esta oportunidade surgiu em agosto passado quando a Reitoria
liberou o espaço de 200 m2 ocupado por duas salas de aula, na
galeria em que já se encontrava a maior parte do Instituto. Assim as
instalações ficaram novamente unificadas, com exceção da Memória Sacra, que
ocupa uma posição de destaque junto à Capela e ao Memorial Jesuítico na
Biblioteca.
O Acervo Arqueológico foi reunido em mais de 50 anos de
pesquisas do IAP cobrindo importante parcela do território brasileiro e as
diferentes etapas de povoamento do Trópico e Subtrópico, desde os primeiros
chegados até os sobreviventes de passado recente. Em termos materiais são mais
de cinco mil caixas, cada uma contendo uma amostra limpa, numerada e
identificada num catálogo, que permite sua rápida localização no espaço. Em
termos de peças são muitas centenas de milhares, de fragmentos cerâmicos, artefatos
polidos e lascados de pedra, restos de alimentação de origem animal e vegetal e
esqueletos humanos. Alguns objetos sobreviveram ao incêndio do museu do antigo
Seminário.
O que representam as amostras?
No Rio Grande do Sul e Santa Catarina eles representam a
cultura dos primeiros caçadores do mato (tradição Umbu: 10.000 a 1.000 anos
atrás), que viviam em abrigos rochosos e acampamentos a céu aberto; os pescadores
e coletores de moluscos do litoral (sambaquis: 8.000 a 1.000 anos atrás); os
construtores de casas subterrâneas no planalto (tradição cerâmica Taquara e
tradição cerâmica Itararé: a partir de 500 anos de nossa Era), antepassados
respectivamente dos índios Kaingang e Xokleng (Botocudos); os construtores de
‘cerritos’ nos campos do sul (tradição cerâmica Vieira, a partir do começo de
nossa Era), antepassados de Charruas e Minuanos; e os agricultores (tradição
cerâmica Guarani, no segundo milênio de nossa Era), antepassados dos guaranis
das Reduções e dos Guarani-Mbyá de nossos dias.
As amostras das pesquisas no cerrado, na caatinga e no
pantanal foram partilhadas com as instituições locais, a PUCG de Goiânia, a
PUCPE de Recife, o Centro Universitário da UFMS em Corumbá, ficando amostras
significativas em cada uma das instituições conveniadas. As amostras cobrem o
primeiro povoamento por caçadores do cerrado e da caatinga em Pernambuco, Bahia,
Goiás e Mato Grosso do Sul (tradição Itaparica e tradição Serranópolis: 12.500
a 7.000 anos atrás), o primeiro povoamento do Pantanal do MS (8.400 anos atrás)
e os grupos ceramistas agricultores: a tradição Pantanal desde o primeiro
milênio de nossa Era, antepassados dos índios ribeirinhos do período colonial;
a tradição Una, desde 3.000 anos atrás, possíveis antepassados longínquos dos
índios Kaingang e Xokleng do Sul do Brasil; a tradição Aratu e a tradição Uru,
no segundo milênio de nossa Era, antepassados de grandes grupos indígenas do
período colonial, com descentes até o dia de hoje; e a tradição Guarani, ali
menos representada que no Sul do Brasil.
O transporte do acervo da cidade para o Campus não
representa o fim do trabalho. O acervo foi criado obedecendo as normas de
guarda e conservação vigentes no tempo. Em 2016 surgiram novas orientações de
guarda e manejo deste patrimônio nacional, que exigem da instituição alguns
anos de investimento e trabalho. Mas vale a pena.
Texto de Pedro
Ignácio Schmitz.
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Foto: Jairo Henrique Rogge |
A ala B05 do Campus da UNISINOS em que agora estão todas as
instalações do Instituto Anchietano de Pesquisas, com exceção da Memória Sacra,
localizada no saguão da Biblioteca, ao lado da Capela Universitária.
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Foto: Jairo Henrique Rogge |
Por causa do peso dos materiais o Acervo de Arqueologia está
no piso térreo, diretamente sobre o chão. É de fácil acesso e ocupa um espaço
de 200 m2.
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Foto: Jairo Henrique Rogge |
O começo da instalação. Todo o material será transferido
para caixas especiais em ambiente climatizado de acordo com as normas do CNA do
IPHAN.