Fui convidado pelo padre Ignácio Schimitz para escrever sobre a minha trajetória no Instituto Anchietano ao longo dos últimos quatro anos em que participei como voluntário e bolsista. Em primeiro lugar, pensei em relatar todas as atividades em que participei nesse período, mas isso tudo está descrito no site e no blog do IAP. Gostaria realmente de descrever ou “outro lado” desta instituição, o lado humano de sua equipe. Uma equipe que é uma verdadeira família.
O IAP é classificado como uma instituição de renome internacional. Por seus gabinetes e trabalhos em campo passaram pesquisadores em diversos períodos e de várias localidades do Brasil e do exterior. A quem não teve a oportunidade de conhecer esse ambiente, pode parecer um local frio e de pessoas dedicadas somente aos seus trabalhos científicos. Entretanto não é essa a realidade. Em meio a tantos livros e material de pesquisa, encontramos pessoas que, mesmo com tantos títulos acadêmicos, não se deixam influenciar por isso ou tornarem isso maior do que suas essências. Mestres e doutores que preferem ser chamados pelo primeiro nome e que estão sempre dispostos a tirar dúvidas e a compartilhar ensinamentos com os bolsistas e estagiários da graduação. Essa para mim é uma das maiores qualidades do IAP. É formado de gente, é formado de vidas.
Algumas das grandes vantagens da convivência nesse ambiente são as conversas que podemos presenciar e participar. Mesmo em meio a brincadeiras ou conversas corriqueiras sempre podemos usufruir de algum aprendizado. Em conversa com ex-bolsistas e estagiários, foi unânime a afirmação de que a “hora do café”, pela manhã ou à tarde, era, na maioria das vezes, o momento mais esperado, já que a equipe conseguiria se reunir para conversas muito agradáveis e com muito conteúdo em torno da mesa que permitia o olho no olho, o aprendizado e o ensinamento constantes sempre ao aroma do café. Em meio a essas conversas sempre esperávamos o padre Inácio chegar com as nozes pecan que ele mesmo colhera em sua casa e carinhosamente compartilhava conosco. As brincadeiras sobre quem havia feito o café mais fraco ou mais forte também eram frequentes. E foi com esses e inúmeros outros momentos que pude conhecer o outro lado desses pesquisadores.
Um dos momentos mais esperados no IAP – A hora do café
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Diversas vezes pedia informações à Denise sobre determinadas plantas e ela prontamente já me respondia. Além de sua experiência como pesquisadora, também trabalhou por muito tempo com o saudoso padre Clemente, referência nessa área. Ela também foi e continua sendo uma grande incentivadora do meu trabalho com Patrimônio Histórico junto ao Memorial Indígena. Como não falar do Suliano, ou como eu o chamava, Mister Bones em razão do seu trabalho com material ósseo que faz parte do acervo técnico. Mais que um colega, um grande amigo que ganhei nesta equipe. Ele e o professor Marcus Beber foram os responsáveis pelo meu “batismo em campo” nas escavações arqueológicas de São José do Cerrito, em Santa Catarina. Com eles aprendi na prática o que havíamos visto em sala de aula. Técnicas e procedimentos que jamais teria contato se não fosse essa experiência com as casas subterrâneas.
Primeira experiência de campo com a orientação do prof dr Pedro Ignácio Schmitz
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Outra pessoa a quem sou muito grato é a Ivone Verardi que, com décadas de convivência naquele espaço, estava sempre disponível para me ajudar com um sorriso no rosto. Era ela que me lembrava dos prazos de inscrições para eventos, de atualizar o currículo Lattes, pedidos de bolsa, entre outros. E o nosso “mestre livreiro”, professor Jandir Damo? Seu conhecimento sobre o acervo literário do IAP é surpreendente. Quando eu necessitava de algum livro que pudesse me ajudar em minha pesquisa ou em trabalhos acadêmicos, bastava lhe dizer. Em segundos, seu HD mental já processava e me orientava em qual corredor e seção da biblioteca estaria o livro desejado.
O professor Jairo Rogge foi outro bom amigo que o IAP me proporcionou, além de ter sido meu professor de Arqueologia e coordenador do curso de História, foi também orientador do meu TCC. Em nossas conversas sempre havia os temas Arqueologia e Rock’n Roll, afinal, como disse inicialmente, nem todas as conversas no IAP se resumiam às pesquisas.
E finalmente, professor Pedro Ignácio Schmitz, o padre Ignácio, que me acolheu e acreditou nas minhas propostas e desafios. É muito difícil descrevê-lo sem me envolver emocionalmente. Não foi apenas meu orientador, foi, juntamente com a Denise e o Suliano, amigos nos momentos em que mais necessitei. Com ele, aprendi que de nada vale o conhecimento sem poder colocá-lo em prática, ou compartilhá-lo. A liberdade com que pude atuar no Memorial Jesuíta motivou e inspirou o tema do meu Trabalho de Conclusão de Curso, “A SOCIALIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO: As experiências na mediação entre visitantes e o acervo do memorial Indígena do Instituto Anchietano de Pesquisas”, e a continuação dessa proposta com o ingresso no Mestrado em História. Por isso, falar do IAP nunca será somente de uma instituição. O IAP é formado de pessoas que inspiram, uma família que tenho a honra de integrar.
Texto e Imagens - Márcio de Mattos Rodrigues