Sou Marcus Vinícius Beber, nascido em uma família de professores. Meu Pai, Alfredo, descendente de italianos do Vale do Itajaí, Santa Catarina, professor de História e Geografia na rede estadual do Rio Grande do Sul. Minha Mãe, Hildegarta, de ascendência germânica, nascida em Tapes, RS, professora de História tanto na rede estadual do RS como no Curso de História da Unisinos.
Desde muito cedo eu falava em ser Historiador, fruto da vivência em casa, das conversas em volta da mesa, das pilhas de provas que meus pais tinham todo o fim de semana para corrigir, filhos de professores sabem bem do que estou falando. Ainda que muito bem avisado e alertado sobre as dificuldades da profissão, acabei teimando e, quando concluí o Ensino Médio, concorri a uma vaga ao curso de História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul realizado entre os anos de 1988 e 1992 quando Colei Grau de Licenciado em História. Continuei ainda naquela universidade até o ano de 1995 quando colei o Grau de Bacharel em História.
Minha passagem pela UFRGS levou-me ao primeiro contato com a Arqueologia, já no primeiro semestre de curso, no ano de 1988, assisti as aulas de Pré-História Geral com a Professora Silvia Moehlecke Copé, onde aprendi os primeiros passos desta ciência. No segundo semestre, já influenciado pelo primeiro contato, cursei mais duas disciplinas relacionadas ao assunto, Pré-história Brasileira e Arqueologia, ambas com Prof. Arno Alvarez Kern, cursos bastante instigantes, visto que o professor recém havia chegado de seus estudos de doutoramento no exterior. Neste mesmo semestre tomamos contato ainda com Prof. José J. P. Brochado que ministrou disciplina introdutória de antropologia.
O ano de 1990 foi particularmente importante nesta trajetória pois em março, mais precisamente no dia 06, iniciei minhas atividades como bolsista de Iniciação Científica no Instituto Anchietano de Pesquisas - IAP - orientado pelo Prof. Dr. Pedro Ignácio Schmitz iniciando-se então uma longa relação profissional e de amizade.
A minha primeira atividade foi realizar a cópia dos painéis de arte rupestre do Projeto Alto Sucuriú, uma área que o IAP havia pesquisado entre 1985 e 1989. Daqueles tempos lembro de muitos colegas que circulavam pelos corredores, Maribel Girelli, Adriana Dias, Rodrigo Lavina, Marco de Masi, André Jacobus, André Osório, José Luís Peixoto, Fabíola Andréa Silva entre tantos outros alunos e pesquisadores que buscavam nas bibliotecas do “Pe. Ignácio” bibliografia atualizada para seus trabalhos.
Em janeiro do ano seguinte (1991) participei de minha primeira pesquisa de campo, auxiliando a geóloga Ana Luisa Vietti nas escavações para coleta de dados para sua dissertação de mestrado sobre Reconstituição Paleoambiental na região do Banhado do Colégio, no município de Camaquã, RS. Neste mesmo ano, desenvolvo meu trabalho de Técnica de Pesquisa, disciplina obrigatória do curso de História da UFRGS que exigia a realização de um projeto de pesquisa.
Minha escolha recaiu sobre o tema arqueologia, mais especificamente arte rupestre do Projeto Alto Sucuriú, tema que já vinha trabalhando desde meu ingresso no Instituto. A opção foi realizar a análise de um dos sítios da área, o mais significativo deles, MS-PA-04, conhecido como Casa de Pedra. A orientação do trabalho foi feita a quatro mãos: pela UFRGS, a responsável pela disciplina, a Profa. Celi Pinto, e pelo IAP, o nosso Orientador, Prof. Dr. Pedro Ignácio Schmitz.
As experiências no Instituto Anchietano foram somando-se. Participamos no ano de 91 do "VI Simpósio Sul-Rio-Grandense de Arqueologia - Novas Perspectivas", na PUCRS, meu primeiro contato com a comunidade gaúcha de arqueologia, e em setembro do mesmo ano foi a vez da estreia nacional na "VI Reunião Científica da Sociedade de Arqueologia Brasileira", na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. Fora eventos, participamos de trabalhos de campo no Projeto Corumbá no Mato Grosso do Sul, do Projeto Içara em Santa Catarina.
Os Trabalhos de Campo foram memoráveis, experiências que carrego no coração a até hoje. As Escavações em Içara, Santa Catarina, um sítio com muitos restos de alimentação, sepultamentos, uma equipe de muitos bolsistas, estudantes, graduandos e pós-graduandos, além de todo o interesse da comunidade local que visitava, tal qual uma procissão o canteiro dos trabalhos.
Outro grande trabalho foram as pesquisas no “Pantanal”, Projeto Corumbá, ter tido a possibilidade de conhecer, identificar e levantar um patrimônio arqueológico até então praticamente desconhecido, entrar em contato com toda uma cultura ligada ao rio, a pesca, a criação de gado, foi fundamental na minha formação de arqueólogo.
Março do 1992 marca a colação do Grau de Licenciado em História. Inicia-se então a preparação do projeto de pesquisa com vista ao Mestrado. O objetivo, a PUCRS, que abrira recentemente uma área de concentração em Arqueologia no seu Curso de Pós-Graduação em História. Era a oportunidade de obter a titulação de Arqueólogo.
O projeto de Mestrado foi uma continuação da pesquisa iniciada na graduação e toda a vivência dos últimos anos no Anchietano. O objetivo foi estender a análise realizada em apenas um sítio para os outros três que faziam parte da mesma área. Durante o curso, fui aluno de Arno A. Kern, Klaus Hilbert, José J. Proenza Brochado, Paula Caleffi, Bartomeu Meliá e Pedro Ignácio Schmitz.
A orientação da dissertação coube a Pedro I. Schmitz e Arno A. Kern, em função de um acerto entre o PPGH-PUCRS e o Instituto Anchietano de Pesquisas, para que fosse possível a utilização do acervo depositado nesta última instituição.
Em março de 1995 iniciei como pesquisador, agora contratado, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos lotado no IAP com a função de auxiliar na informatização dos projetos, participar das pesquisas de campo e laboratório e no atendimento às escolas no museu.
Ao longo destes anos participei dos projetos desenvolvidos pela casa: Projeto Ivotí - RS, Programa Arqueológico do Mato Grosso do Sul (Projeto Alto Sucuriú e Projeto Corumbá), Programa Arqueológico de Goiás no Projeto Paranaíba, Projeto Quintão- RS, Projeto Içara - SC, Projeto Arqueologia do Planalto Meridional: Campos de Vacaria, RS, Brasil, Projeto Taió, Projeto São José do Cerrito, Projeto Estâncias Missioneiras.
Os trabalhos consistiam no levantamento, localização, prospecção, avaliação e escavação dos sítios. Em laboratório participei das atividades de análise e organização dos dados.
No ano de 1998, a partir de agosto, comecei a trabalhar nas disciplinas de Arqueologia e Pré-história do curso de Graduação em História da Universidade do Vale do Rio do Sinos - UNISINOS. Atividade que desempenhei até julho de 2020
O ano de 2000 marca meu ingresso no curso de Pós-Graduação, nível de Doutorado, da UNISINOS. Grau que colei em 2004.
Essa é um pouco de minha trajetória na Arqueologia, não vejo como uma profissão, mas antes uma forma de ver o mundo. A arqueologia, por definição, é uma das áreas das ciências humanas que mais nos convida a transitar entre diferentes áreas de conhecimento. Não é incomum você encontrar nas equipes de arqueologia profissionais da Botânica, Zoologia, Geologia, Cartografia, História, Física, Matemática entre outras. Essa diversidade, caracteriza a essência da Arqueologia, a Interdisciplinaridade, isso que a torna tão fantástica e atraente, pois, permite explorar o passado humano a partir de todas as suas facetas, tendo a certeza, que a realidade é muito mais complexa do que podemos perceber.
Ainda mostro umas fotos de projetos em que participei.