A Unisinos é uma grande instituição de ensino, pesquisa e extensão cultural, fundada e mantida pelos jesuítas do Brasil, na cidade de São Leopoldo, RS. Em 31 de julho ela completa 50 anos de atuação como universidade. Ela representa a continuidade do trabalho educacional dos jesuítas na cidade.
A primeira iniciativa educacional dos
jesuítas, na cidade, foi o Ginásio Conceição, fundado em 31 de julho de 1869,
exatamente um século antes da universidade, quando São Leopoldo era um punhado
de casas de imigrantes alemães e alguns lusos, na beira do rio dos Sinos. O seu
internato atraía meninos e jovens de diversas partes do Estado e de fora do
mesmo. Separado só por uma rua, o ginásio masculino dos jesuítas formava
parelha com o Ginásio São José, das Irmãs Franciscanas, fundado em 1872, que,
da mesma forma, atendia a juventude feminina. As duas instituições, nesses 150
anos, formaram homens e mulheres importantes para o Brasil.
No começo do século XX, os majestosos
prédios, construídos para abrigar os educandários, se transformaram em Seminário
Central, que formou gerações de sacerdotes diocesanos e religiosos para o
Brasil. Com a transferência do seminário, os bonitos prédios, muito
maltratados, se tornaram o berço da universidade, sempre como empreendimento da
Companhia de Jesus.
O autor dessa postagem é testemunho desse
nascimento e da sua gestação e, em alguns momentos, participou dela como agente.
Com o apoio do livro de Bohnen e Ullmann, Atividades
dos Jesuitas de São Leopoldo, 1844-1989, UNISINOS, 1989, ele registra
alguns eventos dessa trajetória. Sobre o primeiro período Arthur Blásio Rambo
em Um Sonho e Uma Realidade. A Unisinos 1953/1969.
Editora UNISINOS, 2009 escreveu uma história detalhada.
A gestação: As faculdades de Filosofia,
Direito e Economia
Em 21 de fevereiro de 1952 a Assembleia da
Sociedade Literária Antônio Vieira (ASAV) funda a Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras Cristo Rei (a partir de 1964 passa a se chamar de São
Leopoldo), na sede da entidade, que era o prédio do Seminário Central, em São
Leopoldo. Para a constituição da Faculdade usa os cursos de Humanidades de Pareci
Novo e de Filosofia de São Leopoldo, que eram etapas da formação dos padres jesuítas,
mas não tinham a chancela do Estado.
Em 24 de novembro de 1953 a Faculdade é
autorizada pelo Ministério de Educação e Cultura, mas continua sendo privativa
dos estudantes jesuítas. A partir de 1958 ela perde esta exclusividade.
Em 1957 a Faculdade, que nascera no Colégio
Cristo Rei, na periferia da cidade, é transferida aos prédios que até 1956 tinham
sido ocupados pelo Seminário Central, na beira do rio dos Sinos.
Os prédios à beira do rio |
Em 1958 a Faculdade se compõe dos
seguintes cursos: Filosofia, Letras, Letras Clássicas, Letras Anglo-Germânicas,
Pedagogia, Ciências Sociais e História Natural.
Em 1959 são acrescentados os cursos de
Química e Orientação Vocacional.
Em 1961 é acrescentado o curso de Didática.
Em 1965 vêm os cursos de História e de Matemática.
Em 1968 surgem os cursos de Física e de Licenciatura
em Letras.
O primeiro diretor da Faculdade é seu
promotor, o P. Urbano Thiesen (1953-1961). Ele foi seguido pelos padres Arno
Maldaner, João Oscar Nedel e Pedro Ignácio Schmitz.
Paralelamente à Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras nascem outras faculdades.
Em 1959 a Faculdade de Economia, cujo
diretor é Olívio Koliver,
Em 1967 a Faculdade de Direito, cujo
diretor é Lenine Nequete.
Em 1970 abre Engenharia de Operações, no
Colégio La Salle, em Canoas, cujo diretor é Pedro Beirão Capra.
Os cursos se instalam no antigo prédio do
Seminário Central: no prédio construído pelos Jesuítas para o Ginásio Conceição
e depois ocupado pelos Moinhos Reunidos SA, se instalam os cursos de caráter
mais científico, como História Natural, Química, Física, Matemática. No prédio construído
pelas Irmãs Franciscanas para o Colégio São José, se instalam os cursos de
Humanidades da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a Faculdade de
Direito e a Faculdade de Economia. A Faculdade de Direito ocupava o prédio de
manhã, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, de tarde e a Faculdade de
Economia, de noite.
O número de alunos nas faculdades era
pequeno e oferecia frágil sustento para a manutenção das atividades, sem pensar
na restauração e manutenção dos prédios, a mobília e os aparelhos de ensino e
pesquisa.
Em 1958 são 116 alunos; em 1959, com a
Faculdade de Economia passam a 312; em 1963, com a Faculdade de Direito, passam
a 1048; em 1960, com a Engenharia de Operações chegam a 3.590, o total com que
começa a universidade.
Os professores jesuítas formavam três
quartas partes dos docentes da Faculdade de Filosofia; também colaboravam nas
outras faculdades. Não recebiam salários e viviam de migalhas de seus trabalhos
pastorais. Os professores jesuítas envolvidos na História Natural tinham acesso
a bolsas de pesquisa do CNPq para sua manutenção e verbas para seus projetos e aparelhagens.
São inacreditáveis as manobras, leais e nem sempre tanto, que alguns faziam
para conseguir os aparelhos óticos indispensáveis.
Padres jesuítas que se destacaram na
formação da universidade: Leopoldo Adami (Provincial), João Oscar Nedel, José Marcus
Bach, Isidro Salett, Theobaldo Leopoldo Frantz, Luiz Marobin, Pedro Ignácio
Schmitz, Egídio Francisco Schmitz, Alcides Mario Giehl, Bruno Hammes e Otto
Berwanger.
Seria mais difícil registrar o nome de
todos os professores e funcionários leigos que dedicaram sua vida a esta frágil
instituição.
Os professores leigos recebiam salários de
forma irregular. Havia muito idealismo e dedicação tanto da parte de uns como
de outros para compensar a pobreza e manter funcionando as aulas e as pesquisas.
A Universidade do Vale do Rio dos Sinos:
nascimento e primeiros anos
Na década de 1960 dois núcleos
educacionais do vale do rio dos Sinos caminhavam para formar uma universidade:
em Novo Hamburgo o complexo que se concretizou como FEEVALE e em São Leopoldo o
que se desenvolveu como UNISINOS.
Em uma tarde não lembrada, o deputado
Arnaldo da Costa Prieto, ligado a ambos os grupos, aparece na sala do Diretor
da Faculdade de Filosofia com a seguinte intimação: ‘Senhor Diretor, na próxima
semana preciso o estatuto da Universidade para entrar com o pedido no
Ministério de Educação. Se não o tiver, o grupo de Novo Hamburgo leva a vaga’.
Não existia este estatuto, era preciso criar ao menos um esboço para não perder
o lugar. Foi nessas circunstâncias que três padres, escondendo-se, atrás das
estantes da biblioteca, para não serem perturbados, produziram este embrião,
que garantiu vaga. Este era o lado
político da questão da universidade.
O lado prático é outro. Foi obra de um
grupo formado por jesuítas, reunidos na SURGES – Sociedade Universitária da
Região Geoeducacional dos Sinos, que elaborou o projeto global da universidade
e de sua execução. Tinha como Presidente: P. João Oscar Nedel; como Diretor
Administrativo: P. Alcides Mário Giehl e como Diretor de Assuntos
Administrativos: P Theobaldo Leopoldo Frantz.
Para constituir a universidade, além das
faculdades acima nomeadas, ainda existiam as Escolas integradas de Teologia e o
Instituto Musical Carlos Gomes do Colégio São José.
O projeto foi encaminhado ao Ministério de
Educação e Cultura, cujo titular era Tarso Dutra, o qual, em 31 de julho de
1969, autorizou o funcionamento da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Tinha
decorrido exatamente um século desde que tinha iniciado o Ginásio Conceição,
que funcionou ali até 1912, quando foi transferido para Porto Alegre com o nome
de Colégio Anchieta e o prédio foi ocupado por um seminário de formação de
clero.
O nome da universidade está ligado ao rio
que tem muitos sinos (sinuosidades, ou voltas), mas o logotipo criado na
oportunidade eram dois sinos unidos pelas bases. Só muito mais tarde ele foi
substituído pelo U com a sugestão de infinitas possibilidades.
Antiga logomarca
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Logomarca atual
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O primeiro Reitor (1969-1973)
foi o Biólogo P. João Oscar Nedel, Vice-Reitor Acadêmico o P. José Marcus Bach,
Vice-Reitor Administrativo o Economista José Bordini Cinel.
Os seguintes reitores foram: P. Theobaldo Leopoldo
Frantz (1974-1977), P. Luiz Marobin (1978-1981), Herbert Ewaldo Wetzel
(1982-1985), Aloysio Bohnen (1986-2005), Marcelo Fernandes de Aquino
(2006- ).
Em março de 1970, depois de algumas
reformas e acomodações, começaram as aulas. Nos prédios em que, até 1956, tinha
funcionado o Seminário Central. O total dos alunos era 3590.
Nesse tempo já se tinha feito a reforma
universitária no Brasil. A estrutura de ensino na Unisinos se organizava em
três Institutos Centrais: Letras e Artes, Ciências Humanas, Ciências Positivas.
O vestibular, que dava acesso à
universidade, era mais formal que seletivo. Mas, para chegar às disciplinas
profissionais era necessário cumprir o Ciclo Básico, que tinha a função de
nivelamento e abrangia as disciplinas de Antropologia, Estudo de Problemas
Brasileiros, Inglês, História, Lógica e Metodologia, Matemática, Português, das
quais era preciso aprovar em quatro. Humanismo e Tecnologia e Deontologia também
eram disciplinas obrigatórias para todos os alunos.
Com a facilidade de entrada e o bem-estar
econômico do momento (‘o milagre brasileiro’), o número de alunos cresceu rápida
e continuamente até 1979: dos 3.590 em 1970 subiu para 24.109 em 1979, quando começou
a descer, estabelecendo-se ao redor 20.000. Hoje são aproximadamente 23.000.
Para este crescimento, o espaço dos
prédios se tornou absolutamente inadequado, com imenso atropelamento
especialmente à noite. A solução foi alugar salas grandes em cidades próximas para
abrigar os alunos do ciclo básico para este período: no Colégio São Luiz, em
São Leopoldo; no Ginásio La Salle, em Canoas; no colégio Santa Terezinha, em
Taquara onde se criou uma ‘extensão’; nos colégios Anchieta, Sevigné, São João
e no Ginásio da Paz em Porto Alegre. A dispersão também facilitou o acesso aos
alunos locais e dispensava a viagem para São Leopoldo.
Mas esta solução resultava em muita
despesa, de aluguel das salas e do transporte dos professores e funcionários
para este atendimento. Fazendo os cálculos, P. Egídio Eduardo Schneider, que
foi Vice-Reitor Administrativo em três mandatos sucessivos da reitoria, chegou
à conclusão de que o aluguel de uma sala equivalia ao valor da construção de
uma sala do mesmo tamanho.
Esta consideração levou ao planejamento da
construção de um Campus universitário. Depois de examinar várias possibilidades,
foi comprada uma área de 78,80 ha no fundo dos campos do Colégio Cristo Rei,
encostada ao mato de eucaliptos (‘matão’ que faz divisa com Sapucaia do Sul)).
Em 24 de fevereiro de 1974 começou a
terraplanagem e a 11 de maio foi lançada a pedra fundamental do primeiro
conjunto de blocos, destinado ao Ciclo Básico, que somava 38 amplas salas de
aula e uma ala administrativa. É o atual bloco B da UNISINOS.
Dois futuros professores da Unisinos
tomaram a si a construção de todo o campus: o engenheiro Dirceu Duarte Galegari
e o arquiteto Eliseu Victor Mascarello, sob a coordenação do P. Egídio Eduardo Schneider.
Na noite de 12 de agosto de 1974 se deram
as primeiras aulas nas novas salas do Ciclo Básico. A 12 de setembro se dava a
instalação oficial do Primeiro Ciclo com a presença do Ministro da Educação Ney
Braga e do Ministro do Trabalho Arnaldo da Costa Prieto.
Desde 1974 a 1987 foram construídos
102.011 m2 dos 110.000 m2 previstos. Essa construção do
campus, num tempo de alta inflação, foi toda autofinanciada com uma
administração cuidadosa e manejo do dinheiro, que vinha basicamente das
anuidades pagas pelos alunos. As verbas do Ministério de Educação e Cultura
eram insignificantes.
A inauguração do Campus com a presença de professores, funcionários, autoridades e de Dom Vicente Scherer. |
A construção do campus teve grande cuidado
em preservar elementos do ambiente e implantar outros para lhe dar a fisionomia
que, hoje, todos nós usufruímos. O naturalista P. Clemente Steffen precisa ser
lembrado nesse contexto. A testemunha lembra do tempo em que, no espaço que
será o campus, o Colégio Cristo Rei plantava trigo e depois encheu de
eucaliptos dos quais sobra um pequeno canteiro de árvores hoje gigantescas.
Com a entrada do Plano Cruzado e o
congelamento das anuidades dos alunos, ao tempo do reitorado de Aloysio Bohnen,
começaram as dificuldades e o movimento de construções foi contido.
Com o campus construído e o incêndio, em
1981, de um dos prédios do centro de São Leopoldo e a reforma do prédio restante,
as atividades se foram concentrando no Novo Campus.