segunda-feira, 6 de maio de 2019

Sou professora de História e gosto do que faço!



Márcio de Mattos Rodrigues entrevista Fabiane Maria Rizzardo, professora de História no Colégio São José, São Leopoldo. Fotos do arquivo pessoal da entrevistada.

O que te levou a fazer o curso de História?

Ingressei no curso de História em 2009, aos 19 anos. Naquela época eu ainda não tinha um entendimento claro sobre a importância do historiador e do professor de História para a sociedade. Contudo, tinha muito interesse em compreender o mundo e apostei nessa graduação para lidar com os muitos questionamentos que tinha. Lembro que foi uma aposta cheia de dúvidas. Pensava que desistiria do curso em poucos meses pela impossibilidade de me ver atuando como professora.


Entrevista para televisão

Como foi o teu contato com o Instituto Anchietano de Pesquisas (IAP)?

No segundo semestre de curso tive o privilégio de ser colega de uma bolsista de IC do IAP, responsável por instigar o meu interesse pela casa. A partir dos relatos dela, fiquei deslumbrada com o Pe. Ignácio, com as escavações e com todas as possibilidades que o IAP apresentava: museus, laboratório, biblioteca com periódicos de diversos locais do mundo. Procurei logo demonstrar interesse nos estudos arqueológicos, ingressando como bolsista voluntária no final de 2009. Em 2010, fui contemplada com uma bolsa de IC FAPERGS.



A equipe de campo

Nos conte como foi a primeira saída de campo pelo IAP

A primeira escavação que participei foi em Arroio do Sal, no sambaqui Marambaia I, sob a coordenação do Prof. Jairo Rogge. Aconteceu nas férias de inverno, nos dias mais frios daqueles últimos anos. Lembro que a escavação era leve e de aproximadamente uma semana, própria para iniciantes. Durante o campo aprendi a realizar prospecções, abrir quadrículas, escavar observando as camadas do sambaqui, fotografar, etiquetar o material recolhido, utilizar a bússola... Cada dia de trabalho continha muitas vivências, valiam por vários livros, várias aulas. Contudo, o esforço físico, o frio, a pouca maturidade para sair à trabalho dificultava a convivência em grupo. Brincávamos que era como estar no Big Brother! Rsrs. Em seguida, veio a minha segunda, terceira, quarta e quinta escavação pelo IAP, algumas bem mais longas do que essa primeira e com ainda mais aprendizagens. A mais longa que participei foi no Cerrito, em SC, com duração de 30 dias e direito à cavalgada aos domingos.

Escavando...

Fale um pouco sobre as suas primeiras experiências como monitora no museu do IAP.

A monitoria aconteceu de forma gradual, conforme a bagagem sobre arqueologia e sociedades indígenas ia sendo adquirida. As primeiras vezes que tive que falar com o público visitante foram extremamente difíceis. Essa dificuldade me motivou a conhecer melhor os museus da casa e cada uma das peças expostas para melhor embasar a abordagem. A partir de inúmeras leituras prévias, consegui elaborar no papel uma apresentação base que poderia ser adaptada para diferentes públicos.

Com o tempo, essa apresentação “decorada” e engessada foi sendo aperfeiçoada, podendo ser expandida ou reduzida e continuamente reestruturada. Tentava sempre apresentar para o público dados novos, conforme as pesquisas avançavam. Procurei formas cada mais vez espontâneas de me comunicar, convidando os visitantes a participarem ativamente, expondo suas opiniões.

Muitas dessas experiências no museu foram maravilhosas, dignas de serem guardadas na memória com muito carinho. As visitações que mais me desafiaram foram as de grupos de alunos da graduação em História, provenientes de outras universidades. Considerava uma tarefa importante receber e conversar com pessoas da mesma faixa etária que eu e com vivências parecidas, mas que pudessem ter noções divergentes das minhas. Também me senti especialmente desafiada e honrada com a visitação da aldeia Kaigang de Feitoria. Foi um prazer poder apresentar para eles as peças arqueológicas dos seus ancestrais e de, ao mesmo tempo, ouvir e aprender mais do que falar. 


Visita a aldeia indígena

Como foi a sua orientação de TCC (Trabalho de conclusão de Curso) com o Pe. Ignácio?

Não lembro muito bem como foi o período específico do TCC, pois a orientação com ele sempre foi contínua. O que eu lembro bem é que ele sempre teve boas ideias para propor trabalhos, boas indicações de leituras e disposição para ler os meus textos e contribuir positivamente. Mesmo não concordando com tudo o que ele propunha, sempre me senti bem amparada. Lembro que nas vésperas da minha primeira apresentação em mostra de IC, ele sentou comigo e com uma colega de bolsa que também apresentava pela primeira vez e treinou com a gente as nossas falas. Passou dicas valiosas, cronometrou as nossas apresentações, revisou o PPT. Durante o TCC, esses cuidados e amparos foram reforçados.





Qual foi a sensação de trazer teus atuais alunos ao IAP?

A sensação foi ótima. Foram meus tempos de bolsista no IAP que me inspiraram a propor atividades diferentes em sala de aula, especialmente sobre o povoamento da América e sobre o estudo das sociedades indígenas. Meus alunos foram visitar o IAP sabendo desses detalhes da minha trajetória. Assim, mostrar para eles o espaço onde eu atuava e os muitos encantos que ele contém, foi um exercício interessante para mim e para eles, profundamente interessados pela arqueologia e temática indígena. Para completar a experiência, fomos recebidos pelo Pe. Ignácio, que se mostrou muito atencioso e disposto a dialogar com os estudantes. Fiquei encantada com a experiência.


Apresentando em Congresso de Arqueologia

Gostaria de deixar algum recado ou mensagem para os colegas professores que ainda não trouxeram seus alunos aos museus do IAP?

O recado que posso dar é que aproveitem os diferentes espaços culturais do nosso entorno para proporcionar experiências instigantes e provocativas aos nossos educandos. Vale lembrar que aproximar a comunidade desses locais é uma forma de criar elos entre ela e os patrimônios que necessitam de preservação. Sobre o IAP em específico, sou suspeita para falar, mas ouvi de muitos alunos que ter ido até lá foi uma ótima experiência, pois tiveram a chance de se divertir enquanto aprendiam.  A saída de estudos permitiu que fotografassem, encostassem em alguns objetos, ouvissem ensinamentos, fossem instigados a formular reflexões próprias para serem compartilhadas com o grupo, o que transcendeu qualquer experiência em sala de aula. 

Domingo... Porque não é só de trabalho de campo vive o arqueólogo...

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