Este trabalho se faz inserido no projeto “Memória Sacra da Missão e Província Jesuíta do Sul do Brasil” que se encontra sob coordenação do Prof. Dr. Jairo Henrique Rogge e é Coorientado pelo Prof. Dr. Pedro Ignácio Schmitz, e ligado ao Instituto Anchietano de Pesquisas. Dando continuidade ao trabalho apresentado em 2020, intitulado “Relíquias de santos e sua finalidade cultual no catolicismo sulino dos séculos XIX e XX” e ao trabalho apresentado no VII DOS OFÍCIOS DE CLIO - 2019, “Memória e patrimônio religioso: a importância da preservação de materiais religiosos dos sécs. XIX e XX como história eclesiástica do sul do Brasil”, trabalharemos com a ideia de preservação patrimonial religiosa e do acervo religioso salvaguardado no Instituto Anchietano de Pesquisas como fonte de pesquisa historiográfica. Para a realização deste trabalho utilizou-se de pesquisa bibliográfica, pesquisa documental – utilizando de tradução de documentos, de forma especial das bulas das relíquias de santos, presentes na sala de Memória Sacra, preservados no acervo do Instituto – além da realização de entrevistas com pesquisadores e professores pertinentes ao assunto.
1 - O Contexto Histórico Eclesiástico da Sala de Memória Sacra
A Sala de Memória Sacra, obviamente, preenche um espaço temporal maior que os acontecimentos da década de 1960. Todavia, para uma compreensão geral da importância da preservação de tais materiais religiosos, é importante compreendermos o processo ocorrido após as reformas litúrgicas do Concílio Vaticano II e de Paulo VI.
Com o abandono gradual de alguns ritos e com a mudança litúrgica da Missa, vários objetos litúrgicos, vestimentas, livros rituais, dentre outras coisas, caem em desuso e são relegadas ao esquecimento. As novas ritualísticas são simplificadas, abandonam o uso do Latim, tem as cores litúrgicas reduzidas – preto e róseo tornam-se opcionais, os altares são modificados e em algumas localidades os paramentos litúrgicos, como casulas e capas, são abandonados.
2 - E o que acontece com este patrimônio?
Na maioria dos casos, este patrimônio religiosos acaba sendo desvalorizado, tornado lixo ou esquecido em algum local onde vai, aos poucos, se perdendo. Há um processo gradual de retomada da consciência sobre a importância da preservação destes patrimônios que narram a fé e religiosidade de um grande período temporal. Neste sentido é importante compreender a importância deste patrimônio para além da preservação de memória, mas como fonte para a historiografia.
Os objetos sacros e religiosos preservados servem como fonte para a história da liturgia, para a história do culto e, dentre tantas outras possibilidades, para a história da devoção aos santos, Os Missais e rituais trazem consigo as mudanças de rubricas e de ritos efetuadas por determinados pontífices e em determinadas épocas – exemplo.: Reforma litúrgica de João XXIII. As bulas mostram, ainda, a devoção particular de determinadas regiões – podendo ser averiguada através da comparação estatística de número de relíquias de santos enviados para uma determinada região em um determinado período temporal. Estas bulas e outros documentos, podem ser usadas para o reconhecimento de entes eclesiásticos envolvidos na tramitação para o recebimento de relíquias de primeiro grau, assim como para estabelecer os ocupantes de determinados cargos eclesiásticos em determinadas localidades e temporalidades.
3 - Educação Patrimonial
[...] tratamos patrimônio enquanto evidências materiais e manifestações das culturas, ou seja, conjunto de bens elaborados e passados ao longo das gerações. Nesse sentido, promover a preservação e valorização desses bens culturais, exige grande investimento na área da Educação: ações educativas que possam viabilizar a aproximação entre os agentes responsáveis pela preservação (IPHAN), os que estudam o patrimônio (pesquisadores) e a sociedade em geral, estabelecendo um diálogo necessário a trocas de conhecimentos.
(TEIXEIRA, 2008, p. 202)
O Patrimônio deve ser entendido como uma possibilidade de educação e conscientização histórica. Levar o conhecimento produzido nos gabinetes de pesquisa para a educação de crianças, jovens e adultos é fundamental para criar na sociedade uma valorização de sua história e de seu patrimônio. Além do mais, os espaços de memória quando recebem aos estudantes tem uma função de materializar os conteúdos teóricos dados em sala de aula, trazendo para a realidade visual os conteúdos que, por vezes, tornam-se abstratos aos educandos. O Instituto Anchietano de Pesquisas é exemplo na execução da ponte pesquisa-escola, recebendo inúmeros visitantes em suas salas de memória, promovendo a educação patrimonial.
Nas últimas décadas a Igreja Católica tem buscado a promoção da formação patrimonial e capacitação para a gestão do patrimônio cultural e histórico dentro de suas casas de formação para futuros clérigos. Desde 1988 com a publicação do documento Pastor Bonus cria-se a Commissione per la Conservazione del Patrimonio Artistico e Storico dela Chiesa. Tal comissão tem por objetivo promover a discussão sobre a preservação dos bens históricos e culturais da Igreja como um todo, assim como elaborar normativas e diretrizes para a educação patrimonial dentro dos seminários católicos. Cada Conferência Nacional de Bispos deve, desde o referido documento, promover a instalação das Comissões para a Conservação do Patrimônio Artístico e Histórico da Igreja no âmbito nacional e, por consequência, cada diocese deve formar sua própria comissão para a preservação dos bens históricos e culturais locais.
(MARCHISANO; RABITTI, 1992, S.P.)
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