terça-feira, 16 de maio de 2017

Minha vivência como estagiário de patrimônio na Memória Sacra do Instituto Anchietano de Pesquisas/Unisinos

No início do semestre, durante a primeira aula da disciplina de Patrimônio Cultural, ao receber as explicações sobre as horas de atividades práticas, decidi desenvolver um trabalho relacionado à fé. Após orientação da professora, fui até o Instituto Anchietano de Pesquisas, sendo apresentada ao professor doutor Pedro Ignácio Schmitz. Durante suas explicações, o professor me acompanhou até o Museu Capela do Instituto Anchietano de Pesquisas, onde estão expostas três imagens de São Miguel Arcanjo. As imagens chamaram minha atenção devido à minha devoção, à sua beleza, e aos caminhos que percorreram até virem a ser restauradas e terem seus valores históricos reconhecidos.
Expressei, então, o desejo que essas imagens viessem a se tornar meu objeto de pesquisa dentro do Instituto. A partir da segunda quinzena do mês de março, dei início às atividades práticas, tendo a oportunidade de conhecer a rica biblioteca do Instituto. O acervo da biblioteca conta com um vasto material com o qual efetuei minha pesquisa, tendo acesso às imagens e bibliografia.
O primeiro contato com as imagens trouxe-me imensa admiração pelo trabalho desenvolvido para recuperar tão exuberantes obras. Ressalto que tais peças do acervo percorreram, durante séculos, caminhos muitas vezes permeados de abandono, e sem o devido reconhecimento de sua importância histórica e religiosa.
A presença das imagens do Arcanjo nas reduções jesuíticas, teve, além do caráter doutrinador, o desejo de proteção contra a cobiça, a maldade humana e a soberba. O Arcanjo Miguel portando sua lança que fere o dragão que se encontra sob seus pés e sua balança, é símbolo de força do bem contra o mal, e representa a justiça divina. Nas imagens missioneiras, a representação do mal tem feições humanas, com traços portugueses, demonstrando o grande temor do povo Guarani pelos bandeirantes.
Impossível não se encantar com a beleza das imagens, dos traços delicados aos rústicos, da grandiosidade da imagem barroca, de todos os significados que as três imagens do poderoso arcanjo carregam. Tais peças têm em si a memória e a luta de um povo, de homens que tinham na fé a esperança de ter suas vidas a salvo da maldade e cobiça. Os movimentos dos traços das obras demonstram a força que o Arcanjo Miguel representa, e sua vitória contra aquele que tinha em si os piores pecados.
Posso dizer que, devido ao acúmulo de muitas tarefas, talvez não tenha desenvolvido a pesquisa como gostaria, mas a oportunidade que me foi oferecida na disciplina é única, uma vez que no currículo acadêmico de meu curso são poucas as oportunidades de trabalhar objetos ligados ao patrimônio. Quero agradecer a compreensão e auxílio de toda a equipe do Instituto, que, durante duas semanas, me concederam espaço e material para trabalhar, além de me possibilitarem pensar na importância dessas obras para a construção de nossa nação.


Texto: SUELEN FLORES
Fotos: acervo IAP

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Minha vivência como estagiário de patrimônio na Memória Sacra do Instituto Anchietano de Pesquisas/Unisinos

Em meu período de horas práticas no Instituto Anchietano de Pesquisas, estive na tutela do Dr. Pedro Ignácio Schmitz e a sua equipe, aos quais sou imensamente grato por me oportunizar o estudo de uma escultura de madeira e duas estátuas de gesso da Imaculada Conceição. Trabalhando com esses objetos procurei verificar a importância que possuem e representam para a comunidade e a instituição. Busquei a melhor compreensão do que é patrimônio cultural de uma forma prática, absorvendo o conceito como um bem material ou imaterial, advindo da cultura e a significância que tal objeto tem para uma população.

Imaculada Conceição é nome dado a Maria de Nazaré advindo de sua pureza. Segundo a crença, Maria teria sido escolhida por Deus desde sua concepção e, ao se tornar consciente dos planos do Senhor, aceitou inteiramente estar em união com ele, sendo assim “cheia de graça”. Imaculada remeteria à crença de que Maria nunca havia sido tocada pelo pecado original o qual, para o cristianismo, todos carregam até o momento do batismo. Conceição é o ato de ser criado no seio de uma mulher.




 Nas obras conservadas pelo Instituto Anchietano de Pesquisas a representação da Imaculada Conceição foi feita com as mãos unidas como em uma prece ou com os braços abertos. Sua túnica branca representa a pureza de sua pessoa. O manto azul simboliza o céu, também mostrando a distinção de Maria do resto da humanidade em razão de sua graça. Em sua cabeça há uma coroa de doze estrelas. Sobre seus pés um globo. Muitas vezes também é possível encontrar uma lua nova. É interessante observar a serpente que rodeia o globo, essa também pode ser substituída pelo dragão, representação cristã do mal que se encontra no mundo. O pé da Imaculada Conceição está sobre a cobra que carrega a maçã, o fruto proibido.
A obra feita em madeira é do estilo barroco, mais rebuscada, foi recolhida nos Sete Povos das Missões no começo do século passado. Das estátuas de gesso uma é de Porto Alegre e a outra da Europa.
            O estilo barroco foi consolidado como opositor do racionalismo do Renascimento, que primava por obras harmônicas e simplicidade. Foi o primeiro movimento artístico que chegou ao Brasil com alguma expressão. Na religião serviu como auxiliar dos propagadores da fé e muitas catedrais e igrejas que hoje são parte do patrimônio mundial foram criadas no estilo barroco. Em nosso país essa forma de arte teve grande desenvolvimento devido às minas de ouro e diamantes em nosso território. Ele causou rápido crescimento econômico de algumas camadas da população que viviam nesses locais, bem como chamou atenção de pessoas com maiores condições financeiras que poderiam vir a se interessar por essa forma de arte. Artistas poderiam ser tutorados por benfeitores, paróquias, confrarias, etc.
Essas situações, até então atípicas no Brasil, poderiam ser mais facilmente encontradas em Minas Gerais, por seu ouro e pedras preciosas e no Nordeste, que acumulava riqueza do período de exploração da cana-de-açúcar.
Portanto temos na Memória Sacra obras que são sem dúvida peças únicas e que remetem a períodos importantes da história de nosso país e estado. Elas solidificam a memória com o passado, trazem experiências interpretativas únicas àqueles que as contemplam, sendo patrimônios valiosos da sociedade.
Texto e fotos: NORTON  NEVES