Em meu período de horas práticas no Instituto
Anchietano de Pesquisas, estive na tutela do Dr. Pedro Ignácio Schmitz e a sua
equipe, aos quais sou imensamente grato por me oportunizar o estudo de uma
escultura de madeira e duas estátuas de gesso da Imaculada Conceição. Trabalhando
com esses objetos procurei verificar a importância que possuem e representam
para a comunidade e a instituição. Busquei a melhor compreensão do que é
patrimônio cultural de uma forma prática, absorvendo o conceito como um bem
material ou imaterial, advindo da cultura e a significância que tal objeto tem
para uma população.
Imaculada Conceição é nome dado a Maria de
Nazaré advindo de sua pureza. Segundo a crença, Maria teria sido escolhida por
Deus desde sua concepção e, ao se tornar consciente dos planos do Senhor,
aceitou inteiramente estar em união com ele, sendo assim “cheia de graça”. Imaculada
remeteria à crença de que Maria nunca havia sido tocada pelo pecado original o
qual, para o cristianismo, todos carregam até o momento do batismo. Conceição é
o ato de ser criado no seio de uma mulher.
A obra feita em madeira é do estilo barroco,
mais rebuscada, foi recolhida nos Sete Povos das Missões no começo do século
passado. Das estátuas de gesso uma é de Porto Alegre e a outra da Europa.
O estilo barroco foi consolidado como opositor do racionalismo do
Renascimento, que primava por obras harmônicas e simplicidade. Foi o primeiro
movimento artístico que chegou ao Brasil com alguma expressão. Na religião
serviu como auxiliar dos propagadores da fé e muitas catedrais e igrejas que
hoje são parte do patrimônio mundial foram criadas no estilo barroco. Em nosso
país essa forma de arte teve grande desenvolvimento devido às minas de ouro e
diamantes em nosso território. Ele causou rápido crescimento econômico de
algumas camadas da população que viviam nesses locais, bem como chamou atenção
de pessoas com maiores condições financeiras que poderiam vir a se interessar
por essa forma de arte. Artistas poderiam ser tutorados por benfeitores,
paróquias, confrarias, etc.
Essas situações, até então atípicas no Brasil,
poderiam ser mais facilmente encontradas em Minas Gerais, por seu ouro e pedras
preciosas e no Nordeste, que acumulava riqueza do período de exploração da
cana-de-açúcar.
Portanto temos na Memória Sacra obras que são
sem dúvida peças únicas e que remetem a períodos importantes da história de
nosso país e estado. Elas solidificam a memória com o passado, trazem
experiências interpretativas únicas àqueles que as contemplam, sendo
patrimônios valiosos da sociedade.
Texto e fotos: NORTON NEVES
Nenhum comentário:
Postar um comentário