No início do semestre,
durante a primeira aula da disciplina de Patrimônio Cultural, ao receber as
explicações sobre as horas de atividades práticas, decidi desenvolver um
trabalho relacionado à fé. Após orientação da professora, fui até o Instituto
Anchietano de Pesquisas, sendo apresentada ao professor doutor Pedro Ignácio
Schmitz. Durante suas explicações, o professor me acompanhou até o Museu Capela
do Instituto Anchietano de Pesquisas, onde estão expostas três imagens de São
Miguel Arcanjo. As imagens chamaram minha atenção devido à minha devoção, à sua
beleza, e aos caminhos que percorreram até virem a ser restauradas e terem seus
valores históricos reconhecidos.
Expressei, então, o
desejo que essas imagens viessem a se tornar meu objeto de pesquisa dentro do
Instituto. A partir da segunda quinzena do mês de março, dei início às
atividades práticas, tendo a oportunidade de conhecer a rica biblioteca do Instituto.
O acervo da biblioteca conta com um vasto material com o qual efetuei minha pesquisa,
tendo acesso às imagens e bibliografia.
O primeiro contato com
as imagens trouxe-me imensa admiração pelo trabalho desenvolvido para recuperar
tão exuberantes obras. Ressalto que tais peças do acervo percorreram, durante
séculos, caminhos muitas vezes permeados de abandono, e sem o devido
reconhecimento de sua importância histórica e religiosa.
A presença das imagens do Arcanjo
nas reduções jesuíticas, teve, além do caráter doutrinador, o desejo de
proteção contra a cobiça, a maldade humana e a soberba. O
Arcanjo Miguel portando sua lança que fere o dragão que se encontra sob seus
pés e sua balança, é símbolo de força do bem contra o mal, e representa a
justiça divina. Nas imagens missioneiras, a representação do mal tem feições humanas,
com traços portugueses, demonstrando o grande temor do povo Guarani pelos bandeirantes.
Impossível não se
encantar com a beleza das imagens, dos traços delicados aos rústicos, da
grandiosidade da imagem barroca, de todos os significados que as três imagens
do poderoso arcanjo carregam. Tais peças têm em si a memória e a luta de um
povo, de homens que tinham na fé a esperança de ter suas vidas a salvo da
maldade e cobiça. Os movimentos dos traços das obras demonstram a força que o
Arcanjo Miguel representa, e sua vitória contra aquele que tinha em si os
piores pecados.
Posso dizer que, devido
ao acúmulo de muitas tarefas, talvez não tenha desenvolvido a pesquisa como
gostaria, mas a oportunidade que me foi oferecida na disciplina é única, uma
vez que no currículo acadêmico de meu curso são poucas as oportunidades de
trabalhar objetos ligados ao patrimônio. Quero agradecer a compreensão e auxílio
de toda a equipe do Instituto, que, durante duas semanas, me concederam espaço
e material para trabalhar, além de me possibilitarem pensar na importância dessas
obras para a construção de nossa nação.
Texto: SUELEN FLORES
Fotos: acervo IAP
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