Beatriz Franzen (1934-2010) |
Na primeira semana
do mês de abril de 2018 ocorreu, na Unisinos, a XXV Mostra de Iniciação
Científica e Tecnológica, onde os bolsistas do Instituto Anchietano de
Pesquisas puderam apresentar seus trabalhos, vinculados aos projetos
desenvolvidos do IAP.
Eu, Jefferson
Nunes, orientado pelo doutor Pedro Ignácio Schmitz, apresentei um trabalho inserido
no estudo do Guarani no Vale do Sinos, no qual venho pesquisando desde 2015,
com o título JESUÍTAS, INDÍGENAS E EUROPEUS: UMA ANÁLISE DA TESE DE BEATRIZ
VASCONCELOS FRANZEN NO CONTEXTO DO VALE DO SINOS.
Tese de Franzen, lançada pela Ed. Unisinos em 1999. |
Nesta comunicação,
explorei a tese de Beatriz Franzen, que foi professora por várias décadas na
Unisinos, ajudando a fundar o programa de pós-graduação em História da
universidade em 1987, hoje referência internacional na pesquisa acadêmica. Utilizei,
na exposição, os capítulos do trabalho ligados ao relacionamento dos jesuítas
com índios, autoridades e colonos.
A utilização da
tese de Franzen na pesquisa do Guarani no Alto Vale do Sinos surgiu da necessidade
de expandir a visão sobre os primeiros contatos entre os europeus e os Guarani,
nos séculos XVI e XVII, buscando entender a desestruturação da sociedade indígena.
Nesse contexto, os jesuítas foram extremamente importantes, por serem, em
muitos locais, os primeiros brancos a entrar em contato direto com as
comunidades nativas.
O Guarani (ou
Carijó, como era chamado na época), teve destaque, por ser considerado pelos
jesuítas como o índio mais dócil e de fácil trato para a evangelização. Sua
grande profusão na porção sul do Brasil levou os padres a expandir, paulatinamente,
suas incursões nessas terras, visando a catequização e a salvação das almas.
Essa expansão se
deu, principalmente, pelo litoral sul brasileiro, por causa da proibição, tanto
das autoridades locais quanto das europeias, da ida dos padres, pelo interior
do Brasil, em direção ao Paraguai. Essa região estava desassistida nesse
período, e os padres demonstravam interesse em expandir sua ação missionária
para o local.
Índios Carijó, em livro de Ulrich Schmidl, de 1599. |
Isso, porém, deixava as autoridades temerosas de um despovoamento
do litoral brasileiro, por uma possível corrida para o Paraguai em busca de
riquezas, que traria efeitos dramáticos para a defesa do Brasil, atacado nesse
período por piratas, franceses, holandeses etc. Além disso, o número pequeno de
padres ocasionaria desassistência aos colonos e índios da região.
Por causa disso,
os jesuítas voltaram sua ação missionária especialmente para as áreas
litorâneas do sul do Brasil, sem avançar a linha do Tratado de Tordesilhas, o
que garantiu um contato mais próximo com os índios Carijó, e a expansão da
fronteira sul-brasileira. Com relações muitas vezes tensas com as autoridades,
colonos e escravagistas, que roubavam índios dos padres para escravização, os jesuítas
se colocaram, muitas vezes, na defesa dos índios, e no respeito a sua liberdade
(que só seria completa em uma vida cristã).
Os relatos e
cartas que os jesuítas deixaram desses contatos são fonte crucial para a
compreensão das sociedades Guarani anteriores ao contato, e essa analogia
direta tem nos permitido analisar os assentamentos Guarani no Vale do Sinos de
forma mais ampla, percebendo outros elementos não facilmente perceptíveis nos
registros materiais.
Também
nos permite a percepção do impacto profundo que o contato com os europeus teve
sobre os assentamentos indígenas, desestruturando todo o seu modo de vida,
cultura e tradições, e impedindo a manutenção deste.
Com
isso, adquirimos uma visão mais completa tanto da ação missionária dos
jesuítas, quanto do modo de vida Guarani no Vale do Sinos, especialmente após
os primeiros contatos com os europeus. Isso fica perceptível no mapa abaixo,
retirado dos estudos de Eurico Miller na década de 60, e onde estão indicados o
sítios por nós estudados.
Esses
sítios estão relativamente próximos da "Aldeia do Caibi", grande
aldeia que os jesuítas pretendiam instalar na região do Rio Caí, segundo
Franzen. Isso demonstra o impacto da ação missionária em toda a região,
incluindo o Vale do Sinos. Seus reais efeitos, porém, serão aprofundados na
sequência das pesquisas.
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