sexta-feira, 24 de agosto de 2018

O acervo documental de Pedro Augusto Mentz Ribeiro (1937-2006)


Pedro Augusto Mentz Ribeiro foi um dos pioneiros da Arqueologia no Rio Grande do Sul e trabalhou em outras partes do Brasil e da América Latina. Ele atuou nas seguintes instituições: Instituto Anchietano de Pesquisas/UNISINOS (São Leopoldo), Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul (Taquara), Museu Mauá e UNISC (Santa Cruz do Sul), FURG (Rio Grande).

Os acervos materiais reunidos em suas pesquisas ficaram nas correspondentes instituições, mas a biblioteca e os documentos de pesquisa, foram doados por sua família à universidade FEEVALE, em Novo Hamburgo, onde receberam o espaço e o tratamento adequados. Na cidade, ele se criou, e aí moram os membros de sua família.

A presente postagem é de Iloir da Rosa Escoval, que, sobre o acervo, escreveu A Arqueologia no Brasil e o Arqueólogo Pedro Mentz Ribeiro: escavando as camadas de memória e montando os cacos dessas trajetórias. Monografia de Licenciatura em História na FEEVALE, Novo Hamburgo, em 2014.

Pedro Augusto Mentz Ribeiro nasceu em São Leopoldo, em 1937 e se formou em Ciências Sociais na primeira turma de Licenciados da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Cristo Rei em 1961, hoje UNISINOS.

Depois fez mestrado e doutorado na PUCRS em Porto Alegre e um ano de pós-doutorado em Portugal.

Fonte: Acervo Pedro Augusto Mentz Ribeiro


Fonte: Acervo Pedro Augusto Mentz Ribeiro
Fonte: Acervo Pedro Augusto Mentz Ribeiro

Logo depois da graduação, sob a coordenação do prof. Pedro Ignácio Schmitz, Mentz Ribeiro ingressou no Instituto Anchietano de Pesquisas, como bolsista do CNPq, iniciando sua carreira em Arqueologia e a apresentação dos resultados em eventos científicos no país e no exterior.

Fonte: Acervo Pedro Augusto Mentz Ribeiro

Fonte: Acervo Pedro Augusto Mentz Ribeiro







O primeiro sítio arqueológico pesquisado e registrado por Mentz Ribeiro se localiza no Vale do Rio dos Sinos, RS-221, Alcides Friedrich, Novo Hamburgo – CNSA (Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos) 00945. O sítio foi pesquisado em 06 de novembro de 1966 com a orientação de Irmão Valeriano (Guilherme Naue).

As anotações sobre o sítio, os trabalhos realizados e os materiais recolhidos eram registradas em cadernos de capa dura para melhor conservação. As informações sobre o RS-21 foram registradas no Diário de Campo 1, correspondente ao período de 20/11/1966 a 26/09/1969.

O Diário 2: 10/10/1969 a 19/07/1971; o Diário 3: 22/07/1971 a 12/04/1979; o Diário 4: 24/05/1979 a 11/04/1985; o Diário 5: 12/04/1985 a 30/12/1990; o Diário 6: 24/01/1991 a 20/03/2004. Os diários se constituem nos documentos básicos da pesquisa.

Fonte: Acervo Pedro Augusto Mentz Ribeiro




Fonte: Acervo Pedro Augusto Mentz Ribeiro

De 1970 a 1971, Mentz Ribeiro atuou como pesquisador no Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul (MARSUL), sob a orientação de Eurico Theófilo Miller.

A partir de março de 1972, Pedro Augusto Mentz Ribeiro lecionou no Colégio Mauá e realizou pesquisas arqueológicas junto à equipe do Museu do Colégio Mauá em Santa Cruz do Sul.   

Em 1974, ele aceitou a proposta de trabalhar em tempo integral na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – FISC (atualmente Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC), onde fundou o Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas – CEPA, assim como a Revista do CEPA, importante veículo de comunicação que atinge um expressivo público por conta das permutas com outras instituições semelhantes.

Os primeiros beneficiados da fundação do centro de pesquisas foram os alunos do curso de Estudos Sociais, nas áreas de Antropologia Cultural, História e História do Brasil. E ainda iniciou um curso de extensão com a denominação de “Introdução à Arqueologia” com aulas teóricas e práticas. Para as práticas utilizava o Sítio arqueológico Amanda Barth, no Vale do Rio Pardo, que é o primeiro registrado pelo CEPA, com a sigla RS-RP: 01.

Enquanto esteve à frente do CEPA, Mentz Ribeiro atuou em muitos eventos, tanto no estado, no país e no exterior.


Fonte: Acervo Pedro Augusto Mentz Ribeiro
Fonte: Acervo Pedro Augusto Mentz Ribeiro

Além das pesquisas no Rio Grande do Sul, Mentz Ribeiro participou do “Projeto Roraima”, de salvamento arqueológico, em parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi (Belém), em 1985, 1986 e 1987. Os resultados foram publicados na Revista do CEPA de 1986, 1987 e 1989.

Durante os 20 anos em que coordenou o CEPA (1974 a 1994), foram registrados 663 sítios arqueológicos no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e em Roraima.

Mentz Ribeiro também foi um dos fundadores da Sociedade de Arqueologia Brasileira – SAB, da qual foi presidente na gestão de 1997-1999, e Secretário em várias outras gestões.

Fonte: Acervo Pedro Augusto Mentz Ribeiro





Em 1994, retirando-se da UNISC, Mentz Ribeiro enfrentou novo desafio, e foi lecionar na FURG (Fundação Universidade de Rio Grande), onde trabalhou junto ao Laboratório de Ensino e Pesquisa em Arqueologia e Antropologia – LEPAN, até 2004, quando se aposentou.


Durante toda a carreira como profissional da Arqueologia, e foram quase quarenta anos de trabalho, pesquisa, orientação e ensino, o mais importante sítio arqueológico pesquisado e registrado por Mentz Ribeiro foi o Sítio Afonso Garivaldino: RS–TQ: 58, em Montenegro, que escavou de março a maio de 1989. São 140 páginas no Diário de Campo nº 5 e mais de 300 diapositivos. O trabalho, além da publicação pelo autor, rendeu importantes publicações posteriores. 

Fonte: Acervo Pedro Augusto Mentz Ribeiro

Fonte: Acervo Pedro Augusto Mentz Ribeiro:
Primeiras anotações sobre Afonso Garivaldino (27/01/82)




Fonte: Acervo Pedro Augusto Mentz Ribeiro

Mentz Ribeiro publicava sistematicamente todos os resultados de sua pesquisa. Os documentos e apoios usados para isto formam o acervo que a família deixou para a FEEVALE, onde ele está bem guardado e começando a ser estudado, como indica o trabalho da autora desta postagem, Iloir da Rosa Escoval: A Arqueologia no Brasil e o Arqueólogo Pedro Mentz Ribeiro: escavando as camadas de memória e montando os cacos dessas trajetórias. Monografia (Licenciatura em História) – FEEVALE, Novo Hamburgo, 2014..

O legado de Mentz Rigeiro serve para nos desacomodar, instigar, desafiar e encorajar para a pesquisa, para a realização de algo pelo bem da humanidade, já que ele sempre foi um excelente amigo, um ser humano preocupado com as causas sociais, um inquieto que sempre defendeu aquilo em que acreditava.

Texto e imagens: Iloir da Rosa Escoval

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Tesouro em fundo de gaveta: Volto Santo de Lucca


Mexendo em espólios de um jesuíta falecido na residência Conceição, na cidade de São Leopoldo, Ir. Afonso Wobetto encontrou a preciosidade que hoje estaremos apresentando. No dorso da imagem encontra-se a inscrição Volto Sando de Lucca e o nome de M. Lopez, possível doadora, no ano de 1950. A imagem do Cristo é uma réplica em gesso sobre cruz forrada de veludo vinho (figura 1), de menor tamanho (29,5 – 36 cm.), extremamente primorosa.

Figura 1 - Réplica em gesso que se encontra na Memória Sacra na Unisinos
Figura 2 - Detalhes da vestimenta na réplica
Figura 3 - Detalhes da face na réplica

O que representa esta imagem?

Na tradição cristã Católica é de praxe a representação do Cristo crucificado, e, sendo assim, encontram-se diversos modelos destas representações com simbologias e significados diferentes.  No Brasil, comumente, encontramos a representação do Cristo crucificado gótico, ou seja, com três cravos (pregos), com sangue saindo de suas chagas, braços flexionados e uma aparência sofrida que representa sua humanidade (figura 4).

Figura 4 - Imagem em estilo gótico alemão
em exposição na sala de Memória Sacra
Dentre as diversas formas de representação do Cristo, há a que se encontra na Catedral de Lucca na Itália. Esta imagem, Volto Santo de Lucca, tem diversas histórias e traços bem marcantes. Ao observarmos a imagem percebemos uma característica iconógrafa romana que retrata o Cristo como Majestade, além de percebermos traços do Cristo Oriental Bizantino.

Durante o ano esta imagem fica exposta, na Catedral São Martinho em Lucca, sem adornos (figura 5), mas, nos dias 03 de maio e 13 e 14 de setembro, ela é ornada para comemorar as festividades da Cruz do Senhor. 

Conta a lenda, que este crucifixo teria sido esculpido por Nicodemos em sua totalidade, exceto o rosto, que teria sido esculpido por anjos e colocado na estátua enquanto o escultor, Nicodemos, dormia. Esta estátua teria permanecido escondida durante séculos por medo de que, se descoberta, fosse desprezada pelos Judeus, já que naquele período a destruição de imagens era comum pela iconoclastia.

Figura 5 - Volto de Lucca sem adornos
O crucifixo, segundo a tradição, foi encontrado pelo bispo Gualfredo que estava em peregrinação pela Terra Santa e foi conduzido por Deus até a escultura. Para salvar a imagem o bispo colocou-a em um navio, confiando-o à orientação divina. Após algum tempo o barco chega ao porto de Luni, e é recebido pelo bispo João e seus fiéis de Luni e de Lucca, o qual foi avisado em sonho que deveria se dirigir ao porto para ali encontrar a imagem perfeita do Salvador. Com isso surge uma disputa entre os fiéis das duas cidades para saber onde o crucificado deveria ficar. Dom João resolve confiar na vontade divina e coloca a estátua sob uma carroça com dois bois indomáveis e sem guia que se dirigiram a cidade de Lucca.

Hoje o crucificado se encontra para veneração na catedral São Martinho em Lucca, e é motivo de grandes peregrinações de fiéis dos mais diversos locais. Como já dito, em maio e em setembro, nas festividades da Santa Cruz há uma celebração especial, onde é feita uma procissão e o crucifixo é ornado com vestes preciosas.

Figura 6 - Volto de Lucca ornado
para festividades
Para completar a História, a imagem aqui exposta, assim como a original, teve uma trajetória obscura e chegou, sem grandes conhecimentos, as nossas mãos.      

A imagem está em exposição na sala de Memória Sacra na Unisinos, que se encontra aberta à visitação durante o período letivo, nas terças-feiras das 18:00 às 19:00 horas e nas quintas-feiras das 14:00 às 17:00 horas, podendo também agendar visitas em outros horários entrando em contato através do e-mail anchietano@unisinos.br ou pelo telefone (51) 3590-8409.

Texto:
Gabriel Azevedo de Oliveira
Instituto Anchietano de Pesquisas