segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Tesouro em fundo de gaveta: Volto Santo de Lucca


Mexendo em espólios de um jesuíta falecido na residência Conceição, na cidade de São Leopoldo, Ir. Afonso Wobetto encontrou a preciosidade que hoje estaremos apresentando. No dorso da imagem encontra-se a inscrição Volto Sando de Lucca e o nome de M. Lopez, possível doadora, no ano de 1950. A imagem do Cristo é uma réplica em gesso sobre cruz forrada de veludo vinho (figura 1), de menor tamanho (29,5 – 36 cm.), extremamente primorosa.

Figura 1 - Réplica em gesso que se encontra na Memória Sacra na Unisinos
Figura 2 - Detalhes da vestimenta na réplica
Figura 3 - Detalhes da face na réplica

O que representa esta imagem?

Na tradição cristã Católica é de praxe a representação do Cristo crucificado, e, sendo assim, encontram-se diversos modelos destas representações com simbologias e significados diferentes.  No Brasil, comumente, encontramos a representação do Cristo crucificado gótico, ou seja, com três cravos (pregos), com sangue saindo de suas chagas, braços flexionados e uma aparência sofrida que representa sua humanidade (figura 4).

Figura 4 - Imagem em estilo gótico alemão
em exposição na sala de Memória Sacra
Dentre as diversas formas de representação do Cristo, há a que se encontra na Catedral de Lucca na Itália. Esta imagem, Volto Santo de Lucca, tem diversas histórias e traços bem marcantes. Ao observarmos a imagem percebemos uma característica iconógrafa romana que retrata o Cristo como Majestade, além de percebermos traços do Cristo Oriental Bizantino.

Durante o ano esta imagem fica exposta, na Catedral São Martinho em Lucca, sem adornos (figura 5), mas, nos dias 03 de maio e 13 e 14 de setembro, ela é ornada para comemorar as festividades da Cruz do Senhor. 

Conta a lenda, que este crucifixo teria sido esculpido por Nicodemos em sua totalidade, exceto o rosto, que teria sido esculpido por anjos e colocado na estátua enquanto o escultor, Nicodemos, dormia. Esta estátua teria permanecido escondida durante séculos por medo de que, se descoberta, fosse desprezada pelos Judeus, já que naquele período a destruição de imagens era comum pela iconoclastia.

Figura 5 - Volto de Lucca sem adornos
O crucifixo, segundo a tradição, foi encontrado pelo bispo Gualfredo que estava em peregrinação pela Terra Santa e foi conduzido por Deus até a escultura. Para salvar a imagem o bispo colocou-a em um navio, confiando-o à orientação divina. Após algum tempo o barco chega ao porto de Luni, e é recebido pelo bispo João e seus fiéis de Luni e de Lucca, o qual foi avisado em sonho que deveria se dirigir ao porto para ali encontrar a imagem perfeita do Salvador. Com isso surge uma disputa entre os fiéis das duas cidades para saber onde o crucificado deveria ficar. Dom João resolve confiar na vontade divina e coloca a estátua sob uma carroça com dois bois indomáveis e sem guia que se dirigiram a cidade de Lucca.

Hoje o crucificado se encontra para veneração na catedral São Martinho em Lucca, e é motivo de grandes peregrinações de fiéis dos mais diversos locais. Como já dito, em maio e em setembro, nas festividades da Santa Cruz há uma celebração especial, onde é feita uma procissão e o crucifixo é ornado com vestes preciosas.

Figura 6 - Volto de Lucca ornado
para festividades
Para completar a História, a imagem aqui exposta, assim como a original, teve uma trajetória obscura e chegou, sem grandes conhecimentos, as nossas mãos.      

A imagem está em exposição na sala de Memória Sacra na Unisinos, que se encontra aberta à visitação durante o período letivo, nas terças-feiras das 18:00 às 19:00 horas e nas quintas-feiras das 14:00 às 17:00 horas, podendo também agendar visitas em outros horários entrando em contato através do e-mail anchietano@unisinos.br ou pelo telefone (51) 3590-8409.

Texto:
Gabriel Azevedo de Oliveira
Instituto Anchietano de Pesquisas

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