Mexendo em espólios de um jesuíta
falecido na residência Conceição, na cidade de São Leopoldo, Ir. Afonso Wobetto
encontrou a preciosidade que hoje estaremos apresentando. No dorso da imagem
encontra-se a inscrição Volto Sando de Lucca e o nome de M. Lopez, possível
doadora, no ano de 1950. A imagem do Cristo é uma réplica em gesso sobre cruz
forrada de veludo vinho (figura 1),
de menor tamanho (29,5 – 36 cm.), extremamente primorosa.
Figura 1 - Réplica em gesso que se encontra na Memória Sacra na Unisinos |
Figura 2 - Detalhes da vestimenta na réplica |
Figura 3 - Detalhes da face na réplica |
O que representa esta imagem?
Na
tradição cristã Católica é de praxe a representação do Cristo crucificado, e, sendo assim, encontram-se diversos modelos destas representações com simbologias
e significados diferentes. No Brasil,
comumente, encontramos a representação do Cristo crucificado gótico, ou seja,
com três cravos (pregos), com sangue saindo de suas chagas, braços flexionados
e uma aparência sofrida que representa sua humanidade (figura 4).
Dentre as diversas
formas de representação do Cristo, há a que se encontra na Catedral de Lucca na
Itália. Esta imagem, Volto Santo de Lucca, tem diversas histórias e traços bem
marcantes. Ao observarmos a imagem percebemos uma característica iconógrafa
romana que retrata o Cristo como Majestade, além de percebermos traços do
Cristo Oriental Bizantino.
Durante o ano esta
imagem fica exposta, na Catedral São Martinho em Lucca, sem adornos (figura 5), mas, nos dias 03 de maio e 13
e 14 de setembro, ela é ornada para comemorar as festividades da Cruz do
Senhor.
Conta a lenda, que
este crucifixo teria sido esculpido por Nicodemos em sua totalidade, exceto o
rosto, que teria sido esculpido por anjos e colocado na estátua enquanto o
escultor, Nicodemos, dormia. Esta estátua teria permanecido escondida durante
séculos por medo de que, se descoberta, fosse desprezada pelos Judeus, já que
naquele período a destruição de imagens era comum pela iconoclastia.
Figura 5 - Volto de Lucca sem adornos |
O crucifixo,
segundo a tradição, foi encontrado pelo bispo Gualfredo que estava em
peregrinação pela Terra Santa e foi conduzido por Deus até a escultura. Para
salvar a imagem o bispo colocou-a em um navio, confiando-o à orientação divina.
Após algum tempo o barco chega ao porto de Luni, e é recebido pelo bispo João e
seus fiéis de Luni e de Lucca, o qual foi avisado em sonho que deveria se
dirigir ao porto para ali encontrar a imagem perfeita do Salvador. Com isso
surge uma disputa entre os fiéis das duas cidades para saber onde o crucificado
deveria ficar. Dom João resolve confiar na vontade divina e coloca a estátua
sob uma carroça com dois bois indomáveis e sem guia que se dirigiram a cidade
de Lucca.
Hoje
o crucificado se encontra para veneração na catedral São Martinho em Lucca, e é
motivo de grandes peregrinações de fiéis dos mais diversos locais. Como já
dito, em maio e em setembro, nas festividades da Santa Cruz há uma celebração
especial, onde é feita uma procissão e o crucifixo é ornado com vestes
preciosas.
Figura 6 - Volto de Lucca ornado para festividades |
Para
completar a História, a imagem aqui exposta, assim como a original, teve uma
trajetória obscura e chegou, sem grandes conhecimentos, as nossas mãos.
A
imagem está em exposição na sala de Memória Sacra na Unisinos, que se encontra
aberta à visitação durante o período letivo, nas terças-feiras das 18:00 às
19:00 horas e nas quintas-feiras das 14:00 às 17:00 horas, podendo também
agendar visitas em outros horários entrando em contato através do e-mail anchietano@unisinos.br
ou pelo telefone (51) 3590-8409.
Texto:
Gabriel Azevedo de
Oliveira
Instituto Anchietano de
Pesquisas
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