Esta postagem homenageia a José Afonso de
Vargas, que começou a pesquisa sobre a estância jesuítica de Yapeyu e continua
participando de sua pesquisa.
1. A
Estância Santiago
A postagem de hoje é sobre o projeto ‘A Estância Missioneira da Redução de
Yapeyu’, começado por José Afonso de Vargas na sua dissertação de mestrado
na UNISINOS (A estância de Yapeyu,
2015), projeto que é continuado pela equipe de arqueologia do Instituto
Anchietano de Pesquisas: José Afonso de Vargas, Jairo Henrique Rogge, Marcus
Vinicius Beber, Suliano Ferrasso e Ana Meira, do PPG de Arquitetura da UNISINOS.
A pesquisa bibliográfica é de Pedro Ignácio Schmitz. As ilustrações, quando não
indicado de outra forma, são da equipe.
O projeto tem uma parte bibliográfica que
informa sobre a trajetória e funcionamento da estância, e uma parte
arqueológica que documenta a materialidade das instalações correspondentes. A
postagem usa fragmentos de ambos os aspectos.
As missões dos jesuítas entre os guaranis,
conhecidas como reduções, foram instaladas na Bacia do Rio da Prata, a partir
de 1610. Cada uma reunia algumas dezenas de caciques (60, 70 ou mais caciques)
com sua gente, para formar um núcleo populacional com mais de mil indivíduos.
As tribos tinham vivido até então em pequenas aldeias de poucas casas de palha,
explorando uma área de mato, onde, para sua manutenção, cultivavam plantas
tropicais, caçavam e pescavam.
Durante as primeiras décadas de sua
existência, as missões se apoiavam neste sistema de abastecimento, que se
mostrou cada vez mais desajustado para a população reunida, resultando em
grandes fomes. Para substituir a caça, que era aleatória e pouco rendosa, tão
logo foi possível se introduziu algum gado, trazido de vacarias e estâncias
espanholas da região de Corrientes e Entre Rios, gado que era mantido junto aos
povoados. Com isto, algumas reduções, tanto das margens do rio Paraguai e do rio
Paraná, como do rio Uruguai, conseguiram algum alívio alimentar.
Mas
as bandeiras paulistas da década de 1630 e 1640 interromperam o desenvolvimento
e provocaram um período de destruição, de instabilidade e de movimentação desordenada
dos povoados. Só a partir de 1670 foi encontrada uma fonte regular de abastecimento
de carne, que foi a Vacaria do Mar, nascida dos pequenos rebanhos abandonados
pelas reduções do Tape quando, na década de 1630, fugiram para a Argentina
diante da arrasadora frente bandeirante.
O Governador de Buenos Aires, reconhecendo a origem missioneira do
gado da Vacaria do Mar, determinou que ele fosse reservado para alimentação dos
índios das missões. A partir de então, anualmente, ou de dois em dois anos,
cada missão buscava ali os animais necessários para alimentar seus moradores. Afirma-se
que o conjunto das reduções consumia ao redor de cem mil vacas por ano.
Esta movimentação também corresponde à
redução de Yapeyú, fundada em 1627, uma das maiores e a mais meridional das
missões. Ela estava situada no lado argentino do rio Uruguai em frente à
desembocadura do rio Ibicui.
Em 1657 a redução de Yapeyu criou, no Rincão produzido entre os rios Ibicui e
Uruguai, o primeiro posto de reunião de gado selvagem, que se chamou Estância Santiago. Em 1690 ela contava
70.436 vacas, a maior parte trazida da Vacaria do Mar
A estância Santiago permaneceu neste lugar
até 1701, quando foi absorvida pela nova sede, chamada Estância São José, na bacia do rio Quaraí.
As instalações da chamada Estância Santiago se compõem de duas
construções: o posto de administração na margem do rio Uruguai, em frente à
redução, chamado O Aferidor; este
prédio está conservado e continua
sendo habitado. A estrutura de criação de gado, com as ruinas de uma casa, de
três currais e três potreiros está mais arruinada.
É o que mostramos a seguir:
Modificado
de: Maeder; Gutierrez, 2009, p. 26.
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O espaço das 30 reduções guaranis no
começo do século XVIII quando se criaram ou estabilizaram suas estâncias de
criação de gado. A mais extensa era a da redução de Yapeyu.
Fonte: FURLONG, 1962, p. 188.
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Vista
da redução de Yapeyu na margem direita do rio Uruguai.
A estância da redução de Yapeyu, com
terrenos no lado direito e esquerdo do rio Uruguai. A primeira sede dessa
grande estância se chamava estância
Santiago, que durou até ser incorporada na nova estância São José (Queimada), criada em 1701. Dentro dessa estância
se criou, em 1731, um espaço reservado para gado de corte, chamado São José Novo, que ficava mais longe da
redução.
Durante os primeiros anos as estâncias se
abasteciam de gado das vacarias, onde os animais permaneciam selvagens. A
primeira foi a Vacaria do Mar. No
começo do século XVIII, quando esta se tornou inviável, foram criadas,
sucessivamente, a Vacaria de San Gabriel,
a vacaria do rio Negro e a Vacaria dos Pinhais. Ao se tornarem
inviáveis por causa da depredação causada por índios, portugueses e
castelhanos, foram criadas e ou consolidadas as estâncias, onde o gado tinha
dono e era manejado.
Acervo IAP |
O Aferidor, a casa de administração da estância de Santiago, na beira do rio, em frente à redução que está do outro lado. A casa continua habitada.
Acervo IAP |
Vista dos fundos de O Aferidor mostrando melhor a técnica construtiva típica das
reduções.
As estruturas da Estância Santiago. No encaixe, a relação entre a redução, O Aferidor e a Estância Santiago.
Acervo IAP |
As fundações da casa em que moravam os
índios encarregados dos animais. As paredes da casa eram de adobe e a cobertura
era de palha.
A planta dessa construção acima fotografada.
A planta dos currais em que se fazia o
manejo do gado.
O
reforço em pedra da base da estacada de troncos do grande curral circular.
Referências Bibliográficas
FURLONG, G. Misiones y sus pueblos de guaranies. Buenos Aires: Imprenta Balmes,
1962.
MAEDER, E.; GUTIERREZ, R. Atlas
territorial y urbano de las misiones jesuíticas de guaraníes. Argentina, Paraguay
y Brasil. Sevilla: Instituto Andaluza del
Patrimonio Histórico. 2009.
Boa tarde. Por gentileza, necessito de informações que talvez vocês possuam. No Livro de Raul Pont, ele cita que tropeiros vindos da Argentina pelo passo do Santana Velho, seguia-se em direção ao cerro do Jarau...: é mesmo Cerro do Jaru em Quaraí?
ResponderExcluirGrato pela atenção,
Francisco Stein
contato@steinmapas.com