quinta-feira, 11 de outubro de 2018

A ESTÂNCIA MISSIONEIRA SÃO JOSÉ NOVO


Em 1731 foi criado, na parte meridional da estancia São José, um novo espaço de criação de gado, chamado São José Novo. Nesse espaço de 100 por 50 quilômetros, junto ao rio Arapey, seriam colocadas, inicialmente, 40.000 vacas que não seriam tocadas durante 8 ou 10 anos, esperando que sua reprodução, neste tempo, alcançaria um total de 200.000 animais.

A partir desse momento São José Novo se tornaria reserva de carne para o conjunto das reduções, onde qualquer uma destas poderia comprar os animais necessários, ao preço de 4 reais de prata por vaca.

Na Estância Santiago e na Estância São José (Queimada), além de gado vacum, se teriam criado cavalos, mulas, ovelhas e outros animais de pequeno porte. Com a especialização de São José Novo em gado de corte, se criaram para a reprodução destes animais, no lado argentino, em 1740, vários postos, cada um deles dedicado a uma espécie: ovelhas no posto de San Martin, cavalos no posto de San José, mulas de carga no de San Xavier, vacas leiteiras no de San Isidro, bois no de San Felipe e éguas nos de San Alonso y San Jorge. 

Estes postos, alinhados ao longo do rio Uruguai, passaram a ser, também, os pontos de parada e hospedagem dos tropeiros na rota do gado que, saindo das estâncias do lado oriental (São José e São José Novo), cruzava o rio num vau em rente à atual cidade argentina de Concórdia e levavam tropas de animais para as reduções situadas mais ao norte.

São José Novo, que ficava na República O. do Uruguay, e os postos da rota do gado, que ficavam na Argentina, ainda não foram visitados. Mas para eles conseguimos respigar informações ligadas a seus ocupantes, a suas atividades e a seu abastecimento na tese de H.S. Serres, 2018), que pesquisou relatórios deixados por superiores jesuítas. Livremente reproduzimos algumas dessas informações:

A administração da estância era responsabilidade do cabido da redução.

Segundo um Memorial do Padre Bernardo Nusdorffer, depois de visitar a São José Novo, em 31 de julho de 1744, moravam na estância um Irmão jesuíta incumbido da organização dos trabalhos, e um padre que não tinha residência permanente, mas periodicamente dava assistência espiritual aos moradores na capela da estância. Um e outro eram subordinados ao Cura da redução.

Para o serviço do irmão e do padre, o Superior das Missões deixou ordem que houvesse oito índios: dois pajens, dois para cozinha e padaria, um para a sacristia, um para a horta, um capataz e um velho.

Os índios estancieiros, que moravam na área de criação, se ocupariam exclusivamente com os rodeios e os trabalhos da estância, mas eram estimulados a, também, fazer alguma plantação para seu sustento.

Nusdorffer ordenou também que os da casa recebessem, cada ano, seis garrafas de vinho (para a missa), duas garrafas de sal, dois frascos de aguardente para remédio, quatro arrobas (60 Kg) de açúcar, uma bolsa de mel, um terço (tercio) de erva-mate para cada um, uma quantidade (carpeta) de doces. Supunha-se que colheriam ali mesmo o trigo e o milho necessários; caso contrário, eles seriam remetidos da redução.

Para os índios que estavam na casa e os da estância o P. Cura da redução enviaria a erva-mate e o fumo necessários, de maneira que para setenta índios, que estavam então na estância, seriam remetidas oitenta arrobas (1.200 Kg) de erva-mate e tanto fumo que ao menos tocassem dois maços (manoyos) para cada um, ao ano. A roupa necessária também seria dada pelo P. Cura, ou ele os vestiria quando visitasse a estância, ou a enviaria através do Irmão.

A vestimenta dos índios era muito simples. Os homens usavam camisa, jubão branco de algodão, ceroula, calça e poncho; as mulheres, um vestido largo e aberto. Sem sapatos e meias.

As estâncias tinham postos espalhados pelo território, especialmente por seus limites. Segundo a mesma tese de Serres (2018), um Memorial datado de 1762, sem assinatura e sem indicação a que estância se refere, dá uma ideia das pessoas desses postos. No Posto de Las Palmas, que só criava gado vacum, havia um capataz, mais três homens. No Posto del Bagual de Arriba, que também só criava gado vacum, havia um capataz, mais quatro homens.

No Posto del Bagual de Abajo, havia um capataz, mais 4 homens. No Posto del Rincón havia um capataz, mais seis homens. No Posto de la Carrada havia um capataz, mais seis homens e um rapaz. No Posto El Arreo, ou Casa, havia um capataz, mais quinze homens destinados ao campo. E mais 7 homens destinados a obras.

Na mesma estância estavam mais 3 velhos para acompanhar as carretas, 2 que distribuíam os couros para os cortadores, 2 sacristães, 6 meninos entre 3, 4 e 5 anos, 1 moço enfermiço, 1 cozinheiro. E ainda 34 mulheres casadas, 8 moças crescidas, 6 adolescentes, 5 mais novas e de colo, 2 meninas, ao todo 122 pessoas. Famílias.

Tanto ou mais gente, constituída por índios casados com suas famílias, teria havido na Estância de São José. Não ficou claro se eles vinham acompanhados por seus caciques nem quanto tempo eles ficavam fora do povoado e das atividades que neles se realizavam.


Fonte: Furlong, Cartografia, 1930, imagem Número XLIII.



































Postos criados em 1740 no lado argentino do rio Uruguai, que passaram a ser os lugares de parada na rota que levava animais das estâncias de São José e São José Novo para abastecer reduções necessitadas em território brasileiro, argentino e paraguaio.

Este é o começo de uma pesquisa e os elementos apresentados são pequenos fragmentos de uma história a ser contada. Se, na sua leitura, observar erros, ajude a corrigi-los.


Referência Bibliográfica

FURLONG Cardiff, G. Cartografia jesuítica del Río de La Plata. Buenos Aires: Talleres S.A. Casa Jacobo Peuser, Ltda, 1930.

SERRES, Helenize Soares. As estâncias missioneiras da Banda Oriental do Rio Uruguai. (Tese de Doutorado). 208 p. São Leopoldo, UNISINOS, 2018.

Organização das postagens sobre as estâncias missioneiras: Pedro Ignácio Schmitz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário