No primeiro semestre de 2019, tive a oportunidade de realizar meu estágio de Patrimônio Cultural no Instituto Anchietano de Pesquisas (IAP), orientado pelo professor Pedro Ignácio Schmitz.
Nesse
período, realizei leitura de textos de Arqueologia, observei a recepção de
turmas nos ambientes de memória sacra e indígena da instituição, e fiz a
análise do espaço arqueológico, onde pude investigar mais de perto a forma como
o IAP divulga para as escolas e a comunidade seu trabalho arqueológico. As fotos aqui presentes são de minha autoria (clique nas imagens para ampliá-las).
Figura 1 – Reprodução de pinturas e demais
itens (à esquerda),
e vasilhames cerâmicos e cestaria (à direita).
Na sala do
instituto destinada à Memória Indígena, estão dispostos uma série de artefatos
que, de alguma forma, estão relacionados com o modo de vida dos grupos
indígenas sul-americanos, especialmente brasileiros. Esse espaço é utilizado
especialmente para receber alunos de escolas da região, e ajudá-los a conhecer
um pouco melhor os indígenas que habitaram e ainda habitam nosso país.
O ambiente
possui uma razoável diversidade de materiais, desde os mais típicos a serem
lembrados quando pensamos em indígenas, como vasilhas cerâmicas, pontas de
flechas, cestos e pinturas rupestres, mas vai muito além disso. Percebe-se a
preocupação dos funcionários para apresentar uma amostra diminuta de todo o
imenso acervo do IAP, com a escolha de itens que sejam significativos para se
compreender a riqueza das culturas indígenas do Brasil.
Isso é identificado
pela presença de artefatos de uso diário dos nativos, como as cerâmicas,
cestos, artefatos líticos, além de adornos corporais.
Parte da subsistência
deles é visível na prateleira com ossos de alguns dos animais que eram
consumidos, além do estande e banner com plantas diversas, que permite ao
visitante reconhecer o valor que a domesticação de alimentos pelos indígenas
teve para nossa alimentação moderna (como o consumo do milho e feijão, por
exemplo).
Além
disso, a amostra de mais de um tipo de cerâmica, lítico e formas de
sepultamento permite ao visitante perceber as diferenças entre os grupos, e as soluções
que cada povo encontrou para se adaptar ao meio em que estava inserido e
desenvolver seu modo de vida.
Isso é visível, por exemplo, no banner sobre as
casas subterrâneas dos grupos Jê no planalto sul-brasileiro, que foram uma
adaptação desse povo para se proteger do frio intenso do inverno, época de
frutificação do pinhão, importante fonte de alimento para os Jê.
Figura 3 – Adornos corporais e pequenas
vasilhas decoradas Guarani (à esquerda), e formas de sepultamento por cremação
e enterro direto (à direita).
A complementação
da Memória Indígena com reproduções de pinturas rupestres, animais em madeira,
cachimbos, maracas, cocar e outros adornos, aprofunda a visão sobre esses
grupos, deixando clara a profundidade com que os nativos viam e interagiam com
o ambiente, e a imensa riqueza cultural que a América gerou antes da chegada
dos europeus.
A organização do
espaço do IAP apresenta uma circularidade que faz com que o visitante possa
caminhar pela sala de forma livre, mas sempre em um sentido rotativo, lembrando
a visão cíclica empregada em algumas aldeias indígenas que organizam as
habitações em círculos, e, também, a ideia dos Guarani do eterno caminhar em
busca de uma terra sem males, que os faz permanecer em movimento, mas sem nunca
perder o contato com os pontos em que seus antepassados e parentes se
estabeleceram.
Isso torna todo a Memória Indígena interessante por não deixar
cantos menos privilegiados no ambiente, refletindo que nenhum item ali é mais
ou menos importante, mas que todos possuem igual valor para se entender os
indígenas, e devem ser conhecidos.
Figura 4 – Visão geral de um dos lados do
espaço, com os diversos banners que complementam os artefatos dos estandes.
Por fim,
percebe-se claramente que a organização do espaço pelo IAP foi feita com o
intuito de provocar uma imersão cultural no visitante, que, ao caminhar pela
sala, vai se aprofundando no conhecimento de vários pontos que compõem a vida
dos nativos, como alimentação, trabalho, arte, relação com o sagrado e com a
morte etc. Isso proporciona contato com outras visões de mundo, relacionamento
com a natureza e com a comunidade circundante, levando a reflexões sobre como
nossa sociedade precisa repensar suas ações para promover progresso consciente
e com um mínimo de agressão ao ecossistema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário