Todos nós temos várias
histórias. O ideal seria descobrir uma história de sucesso, uma história
interessante para causar empatia com as pessoas. Então poderia ser importante
falar sobre a vida pessoal, acadêmica e profissional. É o que tentarei fazer.
Quem sou eu? Nasci em Barão de Cotegipe, município
situado na região do Alto Uruguai. Contudo meu registro de nascimento é de
Erechim, já que à época do meu nascimento esse município era apenas um
distrito. Sou o sexto filho de um total de oito, sendo que as duas meninas mais
novas faleceram ainda na adolescência.
Sou filho de descendentes
de italianos, pequenos agricultores. Meu pai nasceu em Bento Gonçalves, minha
mãe em Marau. Ambos migraram, juntamente com a família, quando ainda crianças,
para Barão de Cotegipe, durante a década de 1920, residindo, ao longo de suas
existências, no mesmo local.
Minha família. Eu sou o terceiro na
segunda fila a partir da direita.
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Minha comunidade. A chegada de imigrantes de origem
europeia à região, começou por volta de 1911, quando, aos poucos, foram vindo
os colonizadores italianos, poloneses e ucranianos, surgindo, no Alto Uruguai, um
povoado que se chamou, inicialmente, Floresta que, com o trabalho persistente
dos colonizadores, teve sua emancipação decretada no dia 23 de janeiro de 1965,
recebendo o nome de Barão de Cotegipe. Os migrantes eram atraídos não com
intuito de fazer fortuna, mas, simplesmente, para terem um local onde pudessem
criar seus filhos.
Desenvolviam uma espécie
de agricultura de subsistência, uma modalidade, que tem como principal objetivo,
a produção de alimentos para garantir a sobrevivência do agricultor, de sua
família e de sua comunidade, sem nenhum recurso moderno. Os instrumentos
agrícolas mais usados eram: foice, enxada e arado. Entre os principais produtos
cultivados nas propriedades estavam arroz, feijão, milho, trigo, batatas,
frutas e hortaliças.
Minha escolaridade
básica. Ela ocorreu em
três escolas diferentes: da primeira à quarta série, na Escola Municipal
Visconde de Taunay, a quinta série no Colégio Cristo Rei, escola Particular pertencente
às irmãs da Congregação filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, e as demais
séries no Colégio Estadual São José de Povoado Sérvia, todas, as escolas,
pertencentes ao território do município de Barão de Cotegipe. Depois de
concluído o ensino fundamental, fiz o ensino médio no Seminário Nossa Senhora
da Salete em Marcelino Ramos, Rio Grande do Sul.
Meu ingresso no Seminário
foi despertado pelo padre Ângelo Rosset, vigário da paróquia, que visitava a
comunidade periodicamente. Esse religioso me confiou a missão de liderar o culto
dominical, apesar de ter à época, pouca idade. Segundo ele, eu apresentava
algumas habilidades para seguir a vida religiosa.
Minha vida acadêmica: 1. Graduação
em Filosofia começou com o curso de Filosofia no então Colégio Máximo
Cristo Rei, dos jesuítas, em São Leopoldo. O curso, na época, era dividido em
duas etapas: Filosofia Eclesiástica, ministrada aos jesuítas no Colégio Cristo
Rei e, Filosofia civil, ministrada no Campus da UNISINOS.
Com colegas no Colégio Cristo Rei.
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Influenciado pela
Filosofia Moderna, principalmente pelo pensamento de Descartes, pedi, a meus
superiores, afastamento do Seminário. Para que pudesse seguir a caminhada
necessitei buscar meu próprio sustento através do trabalho. Já dizia Benjamim
Franklin: “O trabalho dignifica o homem”. Ou como diz um provérbio italiano: “El
pan del sudor, el gá pí sapor”. O pão ganho com suor tem mais sabor.
Encontrei trabalho no
Instituto Anchietano de Pesquisas, setor ligado à Universidade do Vale do Rio
dos Sinos, cuja ênfase se dava na área da pesquisa arqueológica, história das
Missões Jesuíticas, organização e preservação de acervos como sejam bibliotecas,
museus de arqueologia e de memória sacra.
Na ocasião a sugestão do diretor
do Instituto foi que eu pensasse, para meu trabalho de conclusão, algum tema
ligado à minha etnia, indicando-me algumas obras interessantes sobre a
Imigração Italiana no Rio Grande do Sul. Entre elas, a obra “Assim Vivem Os
Italianos” escrita por Arlindo I. Battistel e Rovílio Costa, serviu-me de
inspiração para escrever meu trabalho de Conclusão, cujo título é: Filosofia de Vida dos Italianos do Rio
Grande do Sul. Na verdade, a elaboração da monografia obedeceu a um método
de separação, distribuição e análise de provérbios. A intensão foi mostrar o
modo de pensar do italiano no seu quotidiano, onde ele expressa seus valores materiais,
humanos, morais e transcendentais.
Formatura em
Filosofia
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Minha vida acadêmica: 2.Graduação
em História. Paralelo à pesquisa, para elaboração do trabalho de conclusão,
trabalhei na organização de acervos. Um dos acervos interessantes e, do qual me
orgulho de ter colaborado, é a Biblioteca da Província Sul Brasileira S.J. Foi
durante a organização desse acervo que surgiu a ideia do curso de Licenciatura
Plena em História, que foi concluído com a apresentação do Trabalho intitulado:
Adversidades enfrentadas pelas reduções
jesuíticas no século XVII, usando como fonte principal, as Cartas Ânuas.
Minha formação
acadêmica: 3. Mestrado em História. Enquanto
seguia o trabalho de organização da Biblioteca da Província, ia também, despertando
o interesse de aprofundar os estudos na área das Missões, que levou ao ingresso
no curso de Mestrado em História. É que,
ao longo do tempo, ia descobrindo uma quantidade considerável de documentos e
manuscritos dos jesuítas, estudiosos deste assunto. A convivência com muitos
deles, como Pedro Ignácio Schmitz, Arnaldo Bruxel, Rafael Carbonel de
Masy. Arthur Rabuske, Bartomeu Melià, estimulou
o interesse pela origem e desenvolvimento das missões jesuíticas na Bacia do
Rio da Prata. A dissertação correspondente tem como Título: Guayra, no antigo Paraguay. Uma história de
índios, colonos e missionários.
Todos esses cursos
fizeram a base para meus trabalhos no Instituto Anchietano, para os quais faço
pequenos comentários.
Principais atividades.
A
organização da Biblioteca da Província
é um acervo de uns cem mil exemplares, provenientes de casas jesuíticas
desativadas ou de setores que se tornaram obsoletos. Compreendem desde obras
muito antigas e raras, literatura em geral, textos escolares e muitos livros
religiosos como missais, bíblias, rituais e breviários, além de coleções
inteiras de periódicos, como o Deutsches
Volklblatt. Esse acervo, depois de triado, higienizado e dividido em
grandes setores muito serviu para pesquisas em diversas áreas, principalmente história.
As centenas de Missais romanos, bíblias, breviários e outras obras ligadas ao
culto religioso cristão fornecem rico material para o estudo da religião e da
religiosidade entre os imigrantes de origem germânica. O Instituto tem,
atualmente, dois projetos ligados a essas obras religiosas. Com a transferência
recente do Instituto do centro da cidade para o Campus, este acervo foi consultado
no sexto andar da Biblioteca da Unisinos.
Acompanhando
a pesquisa sobre a Bíblia
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Ainda sobram muitos exemplares
da revista Pesquisas em duas salas no antigo assento do Instituto na cidade,
que estão a meu cuidado, enquanto não é possível transferi-los para o novo
espaço.
Manutenção
da Biblioteca do Instituto e atendimento ao público. Com a transferência do Instituto também
veio sua grande biblioteca, a qual
reúne acervos pessoais de pesquisadores jesuítas ou leigos falecidos, mas
principalmente o resultado do intercâmbio da Revista Pesquisas. Essa revista é
dividida nas séries História, Antropologia, Botânica e Zoologia, que eram
intercambiadas com instituições do mundo inteiro e traziam como permuta as
correspondentes publicações. Ele reúne muitas obras clássicas, que eram
difíceis de conseguir antes da Internet e uma quantidade de revistas
internacionais. Com a transferência da cidade para o Campus foi necessário
reorganizar o acervo e colocá-lo novamente à disposição. Um dos setores
importantes é o que se refere às Reduções Jesuíticas do Paraguai e seu contexto.
Ela também recolheu a biblioteca pessoal da Profa. Beatriz Vasconcelos Franzen
e de Pedro Ignácio Schmitz. Meu trabalho principal é a biblioteca e suas
disponibilização.
Registro
de livros na sala de leitura da biblioteca
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O
acervo de Arqueologia. Com
a transferência veio também o acervo de arqueologia, resultado de mais de
cinquenta anos de pesquisas especialmente em duas regiões brasileiras: o Rio
Grande do Sul e Santa Catarina no Subtrópico e, no Trópica, o Cerrado do
Pantanal até o Sertão pernambucano. Durante todo o ano passado trabalhei em sua
reorganização junto com o Pe. Schmitz. O trabalho ainda não está concluído.
Com
um colega no acervo
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Monitoramento
de escolares no espaço Memória Sacra.
Há um trabalho que me dá muita satisfação, é o monitoramento dos alunos das
escolas no espaço da Memória Sacra, situado no saguão da biblioteca da
Unisinos. Esse acervo reúne objetos religiosos provenientes de casas, paróquias
e seminários de jesuítas que guardam a memória da atividade jesuítica. A maior
parte é anterior ao Concílio Vaticano II e não estava sendo usada. São muitas
centenas de alfaias (roupas usadas nos ritos religiosos ou por pessoas
religiosas), cálices, ostensórios, relicários, missais, sacrários, estátuas,
moveis variados e um altar de 1921. Mas também12 esculturas missioneiras
restauradas, provenientes dos Sete Povos das Missões do Rio Grande do Sul, que
são de especial interesse das escolas quando preparam sua visita à antiga
redução de São Miguel. Contar a história dessas missões e dessas esculturas
para as crianças é o que me dá maior satisfação. Este ano já passaram pelo
espaço Memória Sacra mais de 2.300 crianças com visitas e também numerosos
adultos curiosos ou interessados na história quando o espaço está aberto, duas
vezes por semana.
Entre
esculturas missioneiras
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Assim
era o antigo altar
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Vestes e outros
objetos sacros
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Texto: Jandir Damo
Imagens: Acervo Pessoal de Jandir Damo - Acervo Instituto Anchietano de Pesquisas
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