segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

O LIVRO DA MISSA: O MISSAL

 O Instituto Anchietano de Pesquisas, além de imagens de santos, móveis, vestes e outros objetos sacros, reúne um acervo de livros da liturgia católica provenientes de colégios, residências e paróquias da congregação dos jesuítas.

Nesta postagem falamos do Missal, o livro que orienta o sacerdote na celebração da Missa, em cada dia e durante todo o ano. Ele reúne as orações e orienta os procedimentos comuns a cada celebração e as variáveis, que respondem a períodos litúrgicos (Advento, Quaresma, Natal, Páscoa, Pentecostes, Tempo Comum), à comemoração de santos, à lembrança de falecidos e passagens, vicissitudes, necessidades e desejos dos vivos.


A história do Missal

 

O Missal que conhecemos hoje foi-se constituindo através do tempo.

Nos primeiros séculos do cristianismo não havia um missal, i.é, um compêndio com orações formais, normas, guias e auxílios para a celebração da Eucarístia pela comunidade cristã. Predominavam as circunstâncias e a inspiração do momento.

Nos séculos IV e V foram introduzidos livretos como apoio e guia para a celebração.

Nos séculos V a VII surgiu o Sacramentário, contendo fórmulas definidas, que ordenava as celebrações eucarísticas nos conventos e nas catedrais.

No século X apareceu o Missal, que, num volume, reuniu todas orações e normas de celebração da Eucaristia, válidas para todos os sacerdotes, seja num convento, numa catedral urbana, ou numa paróquia rural. As leituras correspondentes ficavam em volume separado.

Pio V (1570) publicou o primeiro Missal para toda a Igreja Romana. Modificações pequenas foram realizadas por Clemente VIII (1604), por Urbano VIII (1634), por Bento XV (1920) e por Pio XI, mas a essência ficou sem modificação. As aprovações desses papas ainda são reproduzidas na abertura de qualquer missal para atestar sua legitimidade e identidade com a edição típica romana.

Até o Concílio Vaticano II (década de 1960) a língua da Missa (e do Missal) era o Latim, o canto era o chamado Gregoriano e o acompanhamento era o órgão ou o harmônio. Com o Concílio Vaticano II a língua da celebração passou a ser a vernácula da comunidade celebrante, os cantos se tornaram variados e o órgão foi substituído por outros instrumentos.


O Missal no acervo da sala de Memória Sacra


No acervo da Memória Sacra existe boa representação de missais, tanto daqueles anteriores ao Concílio Vaticano II, como dos posteriores a ele. Nos anteriores, a publicação do Missal costumava ser primorosa na apresentação e fiel no conteúdo porque atendia uma demanda mundial. E tinha duração indefinida, servindo a numerosas gerações. Para isto, a Igreja Romana credenciava algumas editoras, como a de Friedrich Pusted, em Regensburg, na Alemanha, a Marietti, em Turim e Roma, na Itália, que podiam atender a demanda mundial. Com o Concílio Vaticano II mudou a língua e o canto, mas não a essência do Missal. E editoras regionais começaram a reproduzir os missais com qualidades técnicas e artísticas diferenciadas, em língua vernácula, para atender toda a demanda, agora também diferenciada, das áreas a que se destinavam. Eles se destinam a grandes catedrais e santuários, paróquias urbanas e rurais, capelas conventuais e comunitárias.  Além pelas autoridades religiosas do país ou da região para garantir a identidade com a edição típica romana.

Dos 298 exemplares recolhidos na Memória Sacra foram classificados 62 exemplares, cujas características podem ser vistas na página do Instituto Anchietano.unisinos.br. Alguns exemplares estão expostos para visualização.

O mais antigo da coleção é um volume de tamanho grande, cuja produção foi encomendada pelo bispo de Vizeu, em Portugal, a um iluminista profissional, que o desenhou (a letra dos textos, as iluminuras e as figuras de página inteira) entre os anos de 1600 e 1626. Não temos o volume original, mas uma preciosa cópia de 1835, que está exposta.

Entre os antigos também está o da figura seguinte, que é de 1858 e foi trazido pelos missionários jesuítas que vieram atender os imigrantes alemães.

 

Figura 1. Missal de 1858.

 

Há outros missais de acabamento refinado, capa de couro, cantoneiras de prata e iluminuras na página inicial e no início dos diferentes itens, como o próximo.  Eram usados em festas e momentos solenes.


Figura 2. Missal Romano, encarnação em couro, cantoneiras e imagem central em prata.


Figura 3. Página de abertura do missal, que traduzimos

Missal Romano, reproduzido de acordo com o Decreto do Sacrossanto Concílio Tridentino, editado por ordem do Sumo Pontífice S. Pio, reconhecido por outros Pontífices, reformado por Pio X e tornado público pela autoridade do Santíssimo S.N. Bento XV. Edição conforme a Edição Típica Vaticana. Regensburg. Editora de Friedrich Pustet, tipógrafo da Santa Sé Apostólica e da Sagrada Congregação dos Ritos.


No Missal estão explicitadas as orações das festas do ano, as comemorações dos santos e a liturgia dos dias comuns. As orações a serem pronunciadas pelo celebrante estão impressas em preto, as orientações e referências em vermelho. Veja ilustrações abaixo.


Figura 4. Orações da Missa do Natal de Jesus


Figura 5. Orações da Missa do domingo de Pentecostes

 

Figura 6. Orações para festas de santos


A parte central de qualquer celebração é o Canon, que encerra a consagração do pão e do vinho.

 

Figura 7. A parte central da Missa: o Canon. Em vermelho as orientações para o sacerdote celebrante. Edições Pusted.


Figura 8. O mesmo Canon. Outra Editora.



 
Figura 9. Um missal para sacerdote de pouca visão.

Figura 10. O canto gregoriano tinha sua própria notação.


Texto: Prof. Dr. Pedro Ignácio Schmitz
Imagens: Acervo I.A.P.


 

 

 

 

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