O Instituto Anchietano de Pesquisas, além de imagens de santos, móveis, vestes e outros objetos sacros, reúne um acervo de livros da liturgia católica provenientes de colégios, residências e paróquias da congregação dos jesuítas.
Nesta postagem falamos do Missal, o livro que orienta o sacerdote na celebração da Missa, em cada dia e durante todo o ano. Ele reúne as orações e orienta os procedimentos comuns a cada celebração e as variáveis, que respondem a períodos litúrgicos (Advento, Quaresma, Natal, Páscoa, Pentecostes, Tempo Comum), à comemoração de santos, à lembrança de falecidos e passagens, vicissitudes, necessidades e desejos dos vivos.
A história do Missal
O Missal que conhecemos hoje foi-se constituindo através do tempo.
Nos primeiros séculos do cristianismo não havia um missal, i.é, um compêndio com orações formais, normas, guias e auxílios para a celebração da Eucarístia pela comunidade cristã. Predominavam as circunstâncias e a inspiração do momento.
Nos séculos IV e V foram introduzidos livretos como apoio e guia para a celebração.
Nos séculos V a VII surgiu o Sacramentário, contendo fórmulas definidas, que ordenava as celebrações eucarísticas nos conventos e nas catedrais.
No século X apareceu o Missal, que, num volume, reuniu todas orações e normas de celebração da Eucaristia, válidas para todos os sacerdotes, seja num convento, numa catedral urbana, ou numa paróquia rural. As leituras correspondentes ficavam em volume separado.
Pio V (1570) publicou o primeiro Missal para toda a Igreja Romana. Modificações pequenas foram realizadas por Clemente VIII (1604), por Urbano VIII (1634), por Bento XV (1920) e por Pio XI, mas a essência ficou sem modificação. As aprovações desses papas ainda são reproduzidas na abertura de qualquer missal para atestar sua legitimidade e identidade com a edição típica romana.
Até o Concílio Vaticano II (década de 1960) a língua da Missa (e do Missal) era o Latim, o canto era o chamado Gregoriano e o acompanhamento era o órgão ou o harmônio. Com o Concílio Vaticano II a língua da celebração passou a ser a vernácula da comunidade celebrante, os cantos se tornaram variados e o órgão foi substituído por outros instrumentos.
O Missal no acervo da sala de Memória Sacra
No acervo da Memória Sacra existe boa representação de missais, tanto daqueles anteriores ao Concílio Vaticano II, como dos posteriores a ele. Nos anteriores, a publicação do Missal costumava ser primorosa na apresentação e fiel no conteúdo porque atendia uma demanda mundial. E tinha duração indefinida, servindo a numerosas gerações. Para isto, a Igreja Romana credenciava algumas editoras, como a de Friedrich Pusted, em Regensburg, na Alemanha, a Marietti, em Turim e Roma, na Itália, que podiam atender a demanda mundial. Com o Concílio Vaticano II mudou a língua e o canto, mas não a essência do Missal. E editoras regionais começaram a reproduzir os missais com qualidades técnicas e artísticas diferenciadas, em língua vernácula, para atender toda a demanda, agora também diferenciada, das áreas a que se destinavam. Eles se destinam a grandes catedrais e santuários, paróquias urbanas e rurais, capelas conventuais e comunitárias. Além pelas autoridades religiosas do país ou da região para garantir a identidade com a edição típica romana.
Dos 298 exemplares recolhidos na Memória Sacra foram classificados 62 exemplares, cujas características podem ser vistas na página do Instituto Anchietano.unisinos.br. Alguns exemplares estão expostos para visualização.
O mais antigo da coleção é um volume de tamanho grande, cuja produção foi encomendada pelo bispo de Vizeu, em Portugal, a um iluminista profissional, que o desenhou (a letra dos textos, as iluminuras e as figuras de página inteira) entre os anos de 1600 e 1626. Não temos o volume original, mas uma preciosa cópia de 1835, que está exposta.
Entre os antigos também está o da figura seguinte, que é de 1858 e foi trazido pelos missionários jesuítas que vieram atender os imigrantes alemães.
Há outros missais de acabamento refinado, capa de couro, cantoneiras de prata e iluminuras na página inicial e no início dos diferentes itens, como o próximo. Eram usados em festas e momentos solenes.
Missal Romano, reproduzido de acordo com o Decreto do Sacrossanto Concílio Tridentino, editado por ordem do Sumo Pontífice S. Pio, reconhecido por outros Pontífices, reformado por Pio X e tornado público pela autoridade do Santíssimo S.N. Bento XV. Edição conforme a Edição Típica Vaticana. Regensburg. Editora de Friedrich Pustet, tipógrafo da Santa Sé Apostólica e da Sagrada Congregação dos Ritos.
No Missal estão explicitadas as orações das festas do ano, as comemorações dos santos e a liturgia dos dias comuns. As orações a serem pronunciadas pelo celebrante estão impressas em preto, as orientações e referências em vermelho. Veja ilustrações abaixo.
A parte central de qualquer celebração é o Canon, que encerra a consagração do pão e do vinho.
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