7.2 Experiências com arte rupestre, pinturas.
Na página do Instituto, em Anchietano, Diversas 5, se encontra uma visão geral de nossos encontros com pinturas e gravuras no Centro do Brasil, sob o título Pinturas e gravuras da pré-história de Goiás e Oeste da Bahia, 1984.
Na primeira parte desta postagem falo de encontros com a tradição Geométrica; na continuação, sobre o estilo Serranópolis e o estilo Caiapônia.
A tradição Geométrica
O primeiro encontro com pintura rupestre brasileira ocorreu no ano de 1972, em Formosa, dez quilômetros ao norte de Brasília, em área de cerrado, na bacia do rio Paranã, um dos formadores do rio Tocantins. Durante um curso de introdução à arqueologia para alunos da Universidade Católica de Goiás, identificamos, , descrevemos, fotografamos e, depois, copiamos em tamanho natural as pinturas de sete pequenos abrigos de um espigão calcário, usando lâminas de plástico transparente, como se fazia na época. Em casa fizemos a redução das imagens, a classificação das representações, o uso de convenções para representar as cores, porque a publicação seria em preto-e-branco e em tamanho reduzido. Nesses abrigos encontramos a primeira representação da tradição Geométrica.
As pinturas cobrem as paredes e o teto, de 0,40 a 7,50 m de altura. São representações abstratas, geométricas ou livres, raramente figurativas, representando, esquematicamente, pisadas humanas, tartarugas, lagartos ou aves. As cores usadas: vermelho, alaranjado, vinho, vermelho escuro e preto. Às vezes se combinam duas cores, preto com vermelho, ou vermelho com alaranjado. As figuras costumam estar agrupadas e também destacam saliências e depressões.
Divulgamos um resumo do trabalho e algumas figuras na publicação acima indicada. Não chegamos a divulgar o trabalho completo porque Alfredo Mendonça de Souza, da Faculdade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, assumiu a pesquisa da região através do Projeto Paranã e publicou convenientemente seus resultados.
Pinturas da tradição Geométrica em Formosa, GO
Pinturas da tradição Geométrica em Formosa, GO
Depois de Formosa, a tradição Geométrica foi, novamente, encontrada em abrigos areníticos do Alto rio Sucuriú (MS), em ambiente de cerrado, onde, a partir de 12.500 antes do Presente (10.500 anos antes de Jesus Cristo), tinham acampado grupos de caçadores da tradição lítica Itaparica, sem ocupações importantes posteriores. Alguns abrigos se constituem de pequenas abas protegidas da chuva em torres residuais, outros são furnas e galerias escuras na borda de uma chapada residual. Pinturas da tradição Geométrica e gravuras da tradição Pisadas se alternam em espaços iluminados e protegidos, formando painéis, ora de uma ora de outra técnica. Na postagem anterior mostramos uma gravura. Estas se constituem de pequenos e estreitos sulcos produzidos por fricção.
Na presente postagem mostramos algumas pinturas. Elas são predominantemente lineares, abstratas, em tonalidades de vermelho e amarelo, servindo o amarelo como sombra, alternância ou preenchimento em figuras tracejadas em vermelho. Há sobreposições de pinturas, mas é difícil deduzir o que isto significa cronológicos.
Além de documentar as pinturas e as gravuras, fizemos cortes estratigráficos nos abrigos para caracterizar a cultura material, a sequência e datação das ocupações. O trabalho não pode ser concluído contra nossa vontade.
Em suas respectivas dissertações de mestrado na UNISINOS, Marcus Vinicius Beber fez o estudo da arte rupestre e reproduziu nela todas as cópias das pinturas e gravuras; Ellen Veroneze mostrou o desenvolvimento de todo o projeto e seus materiais. Ambos trabalhos estão disponíveis na página do Instituto sob o título ‘Dissertações’.
Pinturas geométricas do Alto Sucuriú, MS. O tracejado representa a cor amarela.
Pinturas geométricas do Alto Sucuriú, MS. O tracejado representa a cor amarela.
A imagem original
Pinturas geométricas do Alto Sucuriú, MS. O tracejado representa a cor amarela.
A tradição São Francisco
Estudamos uma área com pinturas e gravuras rupestres em Correntina, Coribe e Santa Maria da Vitória, BA, em ambiente de caatinga, sobre o rio Corrente, afluente da margem esquerda do rio São Francisco, onde as pinturas cobrem as paredes de abrigos calcários da serra do Ramalho. Durante milênios tinham acampado ali, primeiro, populações caçadoras, depois cultivadoras e finalmente ceramistas da tradição cerâmica Una. A maior parte das pinturas é da tradição São Francisco, mas há sobreposições a carvão, que certamente são de outras populações. Em lajedos da margem do rio Corrente há gravuras do estilo Pisadas.
As pinturas da tradição São Francisco preenchem paredões inteiros com todos seus nichos, mesmo os difíceis de escalar. Mais que pela temática, elas se caracterizam pela variedade de cores nos matizes de preto, de marrom, de vermelho, de amarelo, cores que nas figuras vêm associadas em pares, combinando preto com vermelho, preto com amarelo, vermelho com marrom, vermelho com amarelo, marrom com amarelo, usando uma cor como central e outra como preenchimento, sombra ou moldura. Na temática predominam combinações abstratas com forma de escudos feitos de tracejado multicolor; nas representativas, estilizadas, percebemos grupos dançando de braços dados, peixes dourados, tatus, muitos pés humanos. Por seu ar festivo, alegre, multicor, provocam um natural respeito místico, igual ao de uma velha igreja medieval.
O estudo da arte rupestre da Bahía está publicado em Publicações Avulsas do IAP 12. As Pinturas do Projeto Serra Geral. Sudoeste da Bahia. Pedro Ignácio Schmitz, Mariza de Oliveira Barbosa, Maira Barberi Ribeiro,1997.
Pinturas da tradição São Francisco, Coribe, BA
Pinturas da tradição São Francisco, Coribe, BA
Correntina: pinturas a carvão, posteriores à tradição São Francisco.