sexta-feira, 29 de outubro de 2021

O MISSAL PONTIFICAL DE VISEU, PORTUGAL



 
Estrutura e apresentação

O Missal Pontifical de Viseu não é um missal romano ordinário, como era usado na liturgia diária das igrejas antes do Concílio Vaticano II, mas a reunião de textos litúrgicos desse missal como apoio para as celebrações públicas do bispo de Viseu.

Ele não mostra as aprovações pontifícias costumeiras e, naturalmente, estão ausentes festas religiosas introduzidas posteriormente à sua produção no começo do século XVII.

O volume traz as orações e cantos correspondentes às festas do Natal de Jesus, da Epifania (visita dos Reis Magos), do domingo dentro da oitava da Epifania (Jesus entre os doutores no Templo), de Pentecostes, da Assunção de Maria ao céu, da Quinta Feira Santa (Última Ceia), do Domingo da Ressurreição de Jesus, da Comemoração dos Falecidos. No final ainda se encontram os textos do êxtase de São Francisco de Assis e da festa de São Luiz Gonzaga. Esta última, pelas características da execução, indica ser um acréscimo extemporâneo feito por jesuítas, donos do exemplar.

Nas correspondentes festas o ilustrador colocou primeiro as orações feitas na tarde anterior à festa (Vésperas), depois o prefácio da festa e, finalmente, as orações e cantos da missa do dia.

Depois da apresentação das festas, encontra-se o Canon da Missa, correspondente às partes fixas da celebração eucarística, seja ela festiva ou simples.

As páginas estão todas integralmente desenhadas, inclusive a letra dos textos, com exceção da parte final do volume, em que elas parecem impressas. Os cantos vêm na correspondente pauta gregoriana. 

Para dar brilho aos textos, a primeira letra das frases ou parágrafos vem mais elaborada. Todas as páginas estão emolduradas por uma guarnição ou tarja contendo símbolos e representações variadas. Essas guarnições são originais para cada página e não se repetem iguais em todo o volume; cada moldura tem sua identidade. A guarnição das páginas de texto costuma ser elaborada com mais riqueza simbólica que a dos grandes quadros, mais simples, para não interferir no conteúdo do quadro.

Aprecie. Se ampliar as figuras, conseguirá melhor visão dos pormenores, da composição e do brilho que elas emitem.

 




O nascimento de Jesus



Vésperas de Natal

 




Missa do dia de Natal

 





Prefácio de Natal e começo do prefácio da Epifania



Vésperas de Epifania (Reis Magos)



Epifania: os Reis Magos



Texto: Prof. Dr. Pedro Ignácio Schmitz 

Imagens: Acervo IAP

 

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O MISSAL PONTIFICAL DE VISEU, PORTUGAL

 

A obra e o autor

            Na Memória Sacra da Unisinos estão guardados, alguns expostos, algumas dezenas de Missais Romanos, anteriores ao Concílio Vaticano II, que eram usados pelos sacerdotes católicos na celebração da Eucaristia. Entre eles destacamos, hoje, um missal romano produzido para o bispo de Viseu, Portugal e usado por este em celebrações eucarísticas públicas. Seu título é Pontificales Missae ex Missali Romano iuxta decretum sacrossancti Concilij Tridentini restituto (Missas Pontificais retiradas do Missal Romano reproduzido em conformidade como o decreto do Sagrado Concílio de Trento). Sua língua é o latim.

            O missal foi produzido pelo iluminador Estêvão Gonçalves Neto, por encomenda do bispo D. Manuel de Ataíde, do qual foi capelão (a partir de 1610), depois reitor e abade da Igreja de Santa Maria Madalena de Cerejo (a partir de 1613) e finalmente cônego da Catedral da diocese de Viseu (a partir de 1622). 

            Não se conhece o lugar e a data de nascimento do iluminador, nem a escola em que aprendeu a arte. Ele morreu em 1627. 

            Viseu, onde o autor viveu, é um município português criado em 1123. Está situado entre o norte e o centro de Portugal. A Sede diocesana também é do século XII. Hoje o município conta 350.000 habitantes. 

            A obra mais importante do iluminador é o Missal Pontifical de Viseu, realizado entre 1610 e 1626. O tamanho do exemplar é de 45 x 32 cm, a capa em couro. Em 44 folhas de pergaminho fino, frente e verso, não numeradas, ele apresenta textos litúrgicos ricamente ilustrados, de que apresentaremos uma amostra.

             O Missal esteve, inicialmente, depositado na biblioteca dos Padres do convento de Nossa Senhora de Jesus, que, em 1834, se tornou propriedade da Academia de Ciências de Lisboa. Sobre este Missal juravam os reis de Portugal quando aclamados. Ele se tornou conhecido na Exposição Universal de Paris, em 1867. A subsequente demanda popular e a subscrição por coroas e academias de arte, levaram a firma Macià e Cia, de Paris, a produzir uma edição fac-similar, em 1873, origem de nosso exemplar. 

            Provavelmente o exemplar foi trazido pelos missionários jesuítas alemães que, em 1869, criaram o Ginásio Conceição, em São Leopoldo. Sua presença foi notada por ser diferente dos muitos missais reunidos por Rabuske e Schmitz, mas só recentemente foi reconhecida sua importância.

             O precioso exemplar, exposto numa vitrine da Memória Sacra, foi todo fotografado por Gabriel Azevedo do Oliveira. Jairo Henrique Rogge preparou as fotos para este blog. Pedro Ignácio Schmitz reuniu informações sobre ele em diversas contribuições na Wikipédia. 

            São três as postagens previstas: esta, sobre a obra e o autor; a próxima sobre estrutura e apresentação; a terceira mostra com as imagens principais.

 

 


A capa, em couro

 

O autor

 


A data


A página frontal


Texto e Imagens: Prof. Dr. Pedro Ignácio Schmitz