As outras relíquias são variadas e buscam fazer presentes, para
veneração, meditação e possível imitação, aspectos da vida de Jesus, de Maria,
de José e de outros cristãos.
No
caso de Jesus elas buscam uma aproximação mais íntima, mística, apresentando
elementos que lembram o presépio, as fraldas do recém-nascido Menino, a mesa do
Cenáculo, a gruta da Agonia, a coluna da flagelação, o manto de púrpura, o
lenho da cruz, o pano com que Jesus foi coberto na cruz, a pedra do Calvário,
os panos com que Jesus foi envolvido no sepulcro, além de folhas de oliveira do
Getsemani.
De
Maria lembram-se as paredes da casa de Loreto, onde ela teria vivido, suas
vestes, seu véu e seu sepulcro.
De
São José lembra-se a casa de Loreto, onde teria trabalhado como chefe de
família.
As
relíquias de Jesus, de Maria e de José podiam servir para consolidar a memória
de uma devota peregrinação à Terra Santa, servir para a meditação de um monge,
ou tornar presentes os lugares e temas de um pesquisador bíblico como
Gothardo Boedler. Ele recebeu um
relicário de 16 relíquias referentes à Terra Santa, cuja bula estampamos
abaixo. O relicário correspondente não foi identificado no acervo. Há diversas
outras bulas de relíquias semelhantes, mas ainda não encontramos estes objetos.
Figura 6.
Uma bula.
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A
bula emitida por Fr. Antonio Ligi-Bussi Urbinas, Arcebispo de Icônio, Abade
Comendatário de S. Lourenço Fora dos Muros, diz o seguinte em tradução livre do
latim.
‘A todos em geral e aos particulares que
virem este escrito afirmamos e atestamos que Nós, para a maior glória do Deus
Onipotente e a veneração de seus santos, reconhecemos partículas sagradas de:
Presépio, Cenáculo, gruta da Agonia e Pedra do Calvário de Nosso Senhor Jesus
Cristo, das paredes da venerável casa de Loreto da B. V. Virgem Maria, de São
José seu esposo, fios de cabelo da cabeça de São João Batista, ... do sepulcro
dos pais de ..., das relíquias e ossos dos Santos Apóstolos e Evangelistas e de
outros 43 santos, que, trazidas de lugares identificados, colocamos na
teca quadrangular de madeira, bem
fechada por um vidro, ligada com um fio de seda vermelha e com nosso selo, as
entregamos a B.D. Gothardo Boedler, com o direito de mantê-las consigo, dá-las a
outros, leva-las para fora dos muros e expô-las para veneração pública de fiéis
em qualquer igreja, oratório ou capela. Para este fim mandamos nosso secretário,
abaixo firmado, expedir este escrito, que tem nossa assinatura e nosso carimbo.
Roma, de nossa sede, no dia 29 de julho
de 1858.
Os
termos da bula sugerem que Gothardo era religioso, mas não conseguimos indicar
sua instituição.
Outros
relicários recordam preferencialmente o nome do santo e sua importância na
história do cristianismo. Começam com Santa Ana, avó de Jesus, continuam com
Zacarias do Templo, São João Batista, os apóstolos, Maria Madalena, os Santos
Padres antigos, os fundadores de ordens, congregações e mosteiros, os papas, os
bispos proeminentes, os mártires (M), os confessores (C), as Virgens (V), os
doutores (D), antigos e não tanto; uma lembrança das mais importantes
personalidades do cristianismo. Entre estes, o cristão poderia escolher o santo
ou os santos, com os quais gostaria de se identificar, especialmente o santo do
nome recebido no batismo. Assim ele se percebia membro do corpo da Igreja,
cujos santos lhe serviam de exemplo, de protetores e intercessores junto a Deus
e podia sentir-se na Comunhão dos Santos.
O acervo, que os reúne, possibilita ver as opções individuais e as
coletivas.
Organizamos
a lista dos santos em ordem alfabética pelo nome.
Santa Ana,
Santo André
Apóstolo,
S. Afonso
de Ligori,
Santo
Agostinho, bispo,
Santo
AntonioTab.
Santo
Adeodato M.,
Santo
Aurélio M.,
Santa
Barbara V.,
São Basilio
bispo e D.,
São Bento
abade,
Santa
Benedita V.M.,
São
Boaventura,
Beato
Bernardo de Fos. C.,
São Carlos
bispo e D.,
Santa
Clara,
São Camilo
de Lelis,
Beato
Carlos S.,
São Carlos
de Seia C.,
São
Clemente M.,
São
Domingos C.,
P.
Ducoudray,
Beato
Egidio de Assis C.,
São
Francisco,
São
Francisco de Sales,
São
Francisco de Paula,
São
Florêncio M.,
São Felipe
Nery,
São
Gercino,
Santa
Gertrudes,
Santa
Helena,
São João
Batista,
Beato Irmão
Jordan Mai,
São José
Pros e Jac. Kiliani bispo e M.
São João,
São João de
Alverne C.,
São
Juvenal,
Beata
Krescentia v. Kaufb.,
São
Leonardo de P. Maur. C.,
São
Leopoldo,
São
Liberato M.,
Santa Maria Magdalena,
Santa M.
Tereza,
Mártires de
Treveris,
São Nicolau
Myra bispo C.,
São
Pancrácio,
São Paulo,
São Pedro,
São Pio X,
São Pio M.,
São
Próspero M.,
B. Rodolfo
Jo.,
São Roque
C.,
São
Sebastião M.,
Santa
Sibila V.M.,
São
Simplicio M.,
São Tadeo,
Santa
Tereza,
São Tiago
Apóstolo,
Santo Tomaz
de Aquino,
B. Thomaz
de Flor. C.,
Santo
Urbano Papa e M.,
Santa
Ursula V. M.,
S.
Verônica,
São Vicente
de Paula,
São Vital
M.,
São Xisto
Papa e M.,
São
Zacarias.
Se,
depois de olhar o sentido e função das relíquias, examinamos criticamente seu
material, algumas vezes teremos de dizer que o objeto apresentado dificilmente
corresponderia ao que dele se afirma, especialmente no que se refere a Jesus,
Maria e José. Mesmo assim elas cumpriam sua função de memória e eram uma ponte
para chegar ao santo e, através deste, a Deus.
O
conceito de relíquia facilmente nos remete à Idade Média. No acervo não
identificamos nenhum exemplar dessa época. Das bulas conservadas, a mais antiga
é de 1803; trinta (30) são do período entre 1850 e 1900; dezoito (18) são de
1901 a 1950; só uma é de 1959. Elas foram trazidas na bagagem dos jesuítas,
que, nesse tempo vieram ao Brasil para atender os imigrantes de sua origem.
Eram sacerdotes conservadores, firmes opositores do movimento liberal do norte
da Europa, que, por isso, os expulsou. Para eles, que vieram como missionários
para o Brasil, as relíquias tinham sentido e continuaram cumprindo sua função.
Eles eram pobres, muito pobres, como também eram as pessoas atendidas e as
obras que empreendiam. Por isso poucas relíquias apresentam algum brilho; a
quase totalidade é simples e funcional.
Para
finalizar queremos apresentar uma relíquia muito bonita e significativa de tudo
o que acabamos de dizer. Ainda não encontramos sua bula, mas ela seria
semelhante àquele que estampamos. Certamente pertenceu a uma pessoa religiosa
de algum destaque em sua comunidade, como poderia ser o diretor de um
seminário, um provincial ou um professor de teologia. O envoltório é uma teca
de madeira em forma de cruz. Numa face está esculpido, em madeira, o corpo de
Cristo; no alto a representação de Deus Pai e do Espírito Santo; aos pés, sua
Mãe com o coração transpassado por uma espada. Distribuídas pelo corpo da cruz,
que é fechado por um vidro transparente, estão 16 relíquias, representativos
dos primeiros tempos da Igreja Católica: São Pedro, a Santa Cruz, André,
Urbano, Quintino, Modesto, Marta, Madalena, Bárbara, Catarina, Leão Magno,
Leonardo, Benedito, Inocêncio, Valentino, Magno.
Figura 7
Relicário, face externa.
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Figura 8. Relicário, face ventral.
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As
relíquias tornam presente, de forma mais concreta que as estátuas, os quadros,
as medalhas e os ‘santinhos’, a memória do santo, do evento ou do local com o
qual a pessoa desejava se relacionar. Enquanto objeto religioso serviam de
pontos para meditação e, quando bem usadas, se tornavam pontes que ligavam para
Deus.
Você
gostou? Um catálogo das relíquias
estará disponível, dentro de algum tempo, na página do Instituto.
Texto: Profº. Drº. Pedro Ignácio Schmitz
Fotos: Acervo Instituto Anchietano de Pesquisas
Boa noite! Vocês doriam alguma reliquia dessas?
ResponderExcluirQuero saber mais sobre relíquias. Tenho curiosidade. Sei de uma relíquia dos apóstolos com estas informações: Societá Marina. Roma Via de’ Cesarini Al Gesú n 90, 1502 P Antonio Mis
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