Sou natural do município de Vera
Cruz, a capital da gincana no vale do rio Pardo. Filha de agricultores, eu e meus
irmãos éramos entretidos em meio à lida no cultivo do tabaco, principal
subsistência econômica da região. A diversão ficava por conta dos banhos no
arroio Andreas após a colheita. Escorregar no limo da laje era diversão e
garantia de joelhos ralados! Marcas de infância feliz!
Em Lajeado, TO, na
ponte sobre o rio Tocantins.
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A arqueologia estava na vida da
família desde gerações passadas. Na propriedade de minha bisavó Amanda Barth
encontrava-se um grande sítio arqueológico da tradição Umbu. Primeiro foi ela
eximia costureira que recolhia e trocava as pontas de projetil por tecido com um
caixeiro viajante; as pontas devem ter chegado ao museu do Colégio Martin
Luther, de Estrela; depois um interessado arrendou a terra do sítio para
recolher material arqueológico, que trocava pela anuidade de suas filhas no Colégio
Mauá, de Santa Cruz do Sul. Todas as pontas foram reunidas no CEPA (Centro de
Ensino e Pesquisa Arqueológica) da UNISC (Universidade de Santa Cruz do Sul), registradas
como sítio RS-RP:01 e 20-4 onde eu as encontrei nas diversas etapas de minha
formação acadêmica.
Em 2003 iniciei a licenciatura em
História na UNISC. Durante a graduação estagiei em escolas e no Museu Municipal
Emilio Osmundo Assmann de Vera Cruz, onde me deparei com um vestido de noiva
preto confeccionado pela Amanda. No
turno oposto conciliei atividades no CEPA como bolsista de iniciação científica
PUIC e CNPq. Tive oportunidade de participar no acompanhamento arqueológico quando
do restauro da Igreja Matriz de Santo Amaro em General Câmara, RS e do Colégio
Militar de Rio Pardo; no Salvamento de sítios Arqueológico no Vale do Rio das Antas.
O Prof. Dr. Sérgio Célio Klamt, coordenador do centro e orientador dos projetos
acadêmicos, foi exímio incentivador dos bolsistas e fazia questão que
participássemos de todas as etapas do projeto – do preparo do material de
campo, das atividades de laboratório (limpeza, catalogação, classificação),
acondicionamento, organização do acervo, publicações de artigos na Revista do
Cepa e participação em seminários e congressos. Assim como para inúmeros
arqueólogos ser Bolsista no CEPA foi fundamental para minha formação.
A caminho do campo em Passo Fundo, RS.
Nem tudo são flores, tem geada também!
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No CEPA- UNISC, acondicionando material arqueológico.
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Foram 11 anos na instituição
(como bolsista e funcionária) convivendo com a pesquisa e pesquisadores que
buscam o acervo do CEPA, um dos mais ricos do país. Sergio já se dedicava a
arqueologia preventiva; ele se tornou um grande amigo e conselheiro e a arqueologia
minha forma de subsistência, ambos não mais saíram de minha vida.
Professores Dr. Pedro
Ignácio Schmitz e Dr. Sérgio Célio Klamt.
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O mestrado fiz na UNISINOS, onde
encontrei os professores Dr. Pedro Ignácio Schmitz, Dr. Jairo Henrique Rogge, Dr.
Marcus Vinicius Beber, pesquisadores, funcionários e bolsistas e criei uma nova
família de colegas e amigos. Na dissertação voltei às coleções do acervo do
CEPA e Museu Mauá e novamente encontrei as pontas de projetil de minha bisavó
Amanda. Nesse trabalho estudei a trajetória da arqueologia no Rio Grande do
Sul, tomando como amostra o Museu do Colégio Mauá e o CEPA da UNISC de Santa
Cruz do Sul. O Museu Mauá, mantido pela comunidade luterana (IECLB), com forte
ação comunitária, desenvolvia a pesquisa e divulgação da arqueologia voltada
para a comunidade local divulgando os resultados em artigos no jornal Gazeta do
Sul e através da exposição no Museu, que chegou a ter 30.000 visitações anuais.
O CEPA marcou sua trajetória na história da arqueologia num primeiro momento
com arqueologia acadêmica com o Prof. Dr. Pedro Augusto Mentz Ribeiro (seu
fundador em 1974), num segundo momento com arqueologia preventiva com Dr. Prof.
Sérgio Célio Klamt. O trabalho da dissertação foi apreciado pela banca em
agosto de 2013 com nota máxima e indicao para publicação. Para minha felicidade
fui honrada com a publicação da dissertação “Arqueologia: ação comunitária ou
ciência acadêmica” na edição especial dos 40 anos do Cepa.
Funcionários, pesquisadores
e bolsistas, amigos no Instituto Anchietano de Pesquisas
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Em 2015 retornei ao aconchego da
equipe do IAP para doutorado na UNISINOS, buscando entender o padrão e o
sistema de assentamento das populações da tradição Umbu do vale do rio Pardo.
Ele forneceu uma excelente amostra de assentamentos a céu aberto para
contrastar com os assentamentos em abrigos dos vales do rio dos Sinos e do Cai.
Como amostra desses sítios escolhi o de minha bisavó Amanda e 7 assentamentos
rigorosamente levantados por Klamt ao longo da rodovia RST/471 que liga o vale
do rio Pardo ao planalto, cobrindo os diversos ambientes. Para a implantação no
ambiente usei o denso levantamento da flora e da fauna realizado por Mentz
Ribeiro, o responsável anterior pelo CEPA. A publicação está no prelo, na proxima edicão da revista do
Cepa, alusivo aos seus 45 anos.
Agora, enquanto participo de
processos seletivos em busca da estabilidade, dedico-me a minha empresa Barth
Arqueologia e Educação Patrimonial realizando arqueologia preventiva em Parques
Eólicos, Loteamentos, Pequenas Centrais Hidrelétricas, entre outros, com minha
equipe de amigos e colaboradores. A arqueologia preventiva para mim vai além da
preservação do patrimônio arqueológico, histórico e cultural das populações
pretéritas. No momento em que a ciência acadêmica sofre da restrição de
recursos, a arqueologia preventiva contribui com a localização de novos sítios,
a pesquisa, a composição de acervos e a divulgação dos resultados das pesquisas
em seminários, congressos e publicações.
Em Porto Alegre, prospecção em grande sítio Guarani.
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Em Porto Alegre,
sondagens no mesmo sítio.
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Em Bom Jesus, a equipe
na hora do lanche: Cachorro quente e chimarrão.
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Nos imensos campos de
Dom Pedrito, estudo vestígios das estâncias e criação de gado das reduções
guaranis.
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Ainda com pequena caminhada na academia
e na sociedade, tenho minha estrutura básica na família. É no seio dela que a
dificuldade se fragiliza com um olhar, um sorriso fraterno, um abraço carinhoso
ou no aconchegante colo da bisa Edi.
Minha família: avó,
pais, irmãos, sobrinho e chimarrão na manhã de inverno.
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A alegria do meu sobrinho e afilhado
Stheven anima a família. A espontaneidade das respostas renova a esperança e nos
faz crer no futuro melhor.
Minha família pertence à pequena
comunidade Evangélica de Confissão Luterana no Brasil de Linha Andreas em Vera
Cruz que no próximo ano completa 150 anos de fundação. É nela que encontramos apoio espiritual e
solidariedade. Sempre fui ativa nesta
comunidade; atualmente sou presidente da mesma. Temos orgulho da nossa centenária igreja, da
antiga casa-escola e do campo santo com seus esculturais túmulos - verdadeiras
obras de arte.
Com Papai Noel (Irno Nauer), P. Décio Weber, Marina, PPHM Patrícia
Hoffmann, Nair Foesch e Naura Kussler.
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Conciliar
trabalho, doutorado e integrar a diretoria da comunidade nos últimos quatro
anos exigiu constante flexibilidade na agenda, compreensão do orientador da tese,
do P. Décio e dos meus pares no presbitério. Acredito que tivemos êxito pois
sorrimos mais que lamentamos. Presidir uma
comunidade é um desafio que me faz crescer enquanto ser humano, pois me
aproxima das pessoas, faz presenciar as angústias, necessidades e alegrias dos
membros da comunidade. Nos faz sentir responsáveis pelo bem-estar dos membros,
crer que pequenas ações burocráticas não fazem a diferença na vida das pessoas.
Pois como IECLB somos membros de um só corpo em Cristo.
Um petróglifo sobre o
rio Lajeado, Lajeado TO.
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Nos longos anos de formação me
acostumei a manter a cabeça ocupada com problemas amplos, que precisavam
respostas muito trabalhadas. Depois de entregar a tese senti um vazio
nostálgico que estou buscando preencher com um novo projeto acadêmico: o
petróglifo do Tocantins me enfeitiçou. E a chama do desejo de pesquisa se reacendeu.
Sem financiamento acadêmico sigo com disposição na Fé e coragem! Com auxílio de
amigos e do precursor da arqueologia brasileira Dr. Schmitz! Pois a pesquisa é
fruto de questionamentos e uma constante busca de respostas. Ame a sabedoria, e ela o tornará importante;
abrace-a e você será respeitado. Provérbios
4.8
Em meio aos livros,
buscando material para o novo projeto acadêmico.
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Texto e fotos: Marina Amanda Barth
Que linda matéria! Humaniza os pesquisadores e mostra a excelência dos trabalhos realizados. A Marina merece reconhecimento, pois além de um grande ser humano é uma pesquisadora excepcional! Parabéns à equipe do Instituto Anchietano. Parabéns Marina.
ResponderExcluirQue show Marina! Muito lindo o relato e o carinho da memória pelo IAP-Unisinos. Parabéns minha amiga ❤
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