quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Ano da Ecologia e da Amazônia



A Virgem de Nazaré mostra seu filho e deseja muita paz e felicidade.
O Instituto Anchietano de Pesquisas se junta a ela.


A MÃE partilha seu FILHO com a mulher indígena e o religioso.
O povo indígena e moreno aplaude.


O presépio amazônico: a rede à sombra das palmeiras.
O povo canta em LIBRA e aplaude


Todos foram convocados: o monge carmelita, o intelectual jesuíta, as irmãzinhas da Imaculada e nós, que somos o POVO.
As imagens são do artesanato amazônico, em barro. Elas podem ser vistas na Sala de Memória Sacra, no átrio da Biblioteca da UNISINOS.

Texto: Profº. Drº. Pedro Ignácio Schmitz 
Imagens: Acervo Instituto Anchietano de Pesquisas




sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Pe. BARTOMEU MELIÁ, S.J. (07/12/1932 – 06/12/2019)


Faleceu na madrugada do dia 06 de dezembro de 2019, em Assunção, no Paraguai, aos 87 anos de idade, o Pe. Bartomeu Meliá, S.J.

Pe. Meliá era reconhecido internacionalmente por sua dedicação ao estudo dos Guarani e sua incansável luta pelos direitos dos povos originários.

Nascido em Porreres, Mallorca, Espanha em 7 de dezembro de 1932, em 1949 entra para a Companhia de Jesus. Cinco anos depois, em 1954, chega ao Paraguai como missionário, quando inicia estudos da língua Guarani e passa a se dedicar a esse grupo indígena, incluindo um longo tempo de convivência nas aldeias.

Da mesma forma que sua dedicação aos indígenas Guarani, Pe. Meliá também se destacou nos estudos missioneiros, com especial foco nas reduções jesuíticas da antiga Província do Paraguai.
Sua produção científica é imensa, através de livros, artigos, ensaios, entrevistas, participações em congressos entre muitas outras atividades acadêmicas, mas sem esquecer sua vida como jesuíta e religioso.

Sua história se confunde com a história da UNISINOS, a partir de sua atuação durante muitos anos no Programa de Pós-Graduação em História, tendo participado da fundação desse curso como membro de seu primeiro corpo docente.

Todos que o conheceram pessoalmente ou através de suas obras, sentirão muita falta de sua sempre lúcida contribuição.




quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

O QUE VOCÊ CONHECE DE RELÍQUIAS DE SANTOS? PARTE II


As outras relíquias são variadas e buscam fazer presentes, para veneração, meditação e possível imitação, aspectos da vida de Jesus, de Maria, de José e de outros cristãos.


No caso de Jesus elas buscam uma aproximação mais íntima, mística, apresentando elementos que lembram o presépio, as fraldas do recém-nascido Menino, a mesa do Cenáculo, a gruta da Agonia, a coluna da flagelação, o manto de púrpura, o lenho da cruz, o pano com que Jesus foi coberto na cruz, a pedra do Calvário, os panos com que Jesus foi envolvido no sepulcro, além de folhas de oliveira do Getsemani.

De Maria lembram-se as paredes da casa de Loreto, onde ela teria vivido, suas vestes, seu véu e seu sepulcro.

De São José lembra-se a casa de Loreto, onde teria trabalhado como chefe de família.

As relíquias de Jesus, de Maria e de José podiam servir para consolidar a memória de uma devota peregrinação à Terra Santa, servir para a meditação de um monge, ou tornar presentes os lugares e temas de um pesquisador bíblico como Gothardo  Boedler. Ele recebeu um relicário de 16 relíquias referentes à Terra Santa, cuja bula estampamos abaixo. O relicário correspondente não foi identificado no acervo. Há diversas outras bulas de relíquias semelhantes, mas ainda não encontramos estes objetos.

Figura 6. Uma bula.

A bula emitida por Fr. Antonio Ligi-Bussi Urbinas, Arcebispo de Icônio, Abade Comendatário de S. Lourenço Fora dos Muros, diz o seguinte em tradução livre do latim.

A todos em geral e aos particulares que virem este escrito afirmamos e atestamos que Nós, para a maior glória do Deus Onipotente e a veneração de seus santos, reconhecemos partículas sagradas de: Presépio, Cenáculo, gruta da Agonia e Pedra do Calvário de Nosso Senhor Jesus Cristo, das paredes da venerável casa de Loreto da B. V. Virgem Maria, de São José seu esposo, fios de cabelo da cabeça de São João Batista, ... do sepulcro dos pais de ..., das relíquias e ossos dos Santos Apóstolos e Evangelistas e de outros 43 santos, que, trazidas de lugares identificados, colocamos na teca  quadrangular de madeira, bem fechada por um vidro, ligada com um fio de seda vermelha e com nosso selo, as entregamos  a B.D. Gothardo Boedler,  com o direito de mantê-las consigo, dá-las a outros, leva-las para fora dos muros e expô-las para veneração pública de fiéis em qualquer igreja, oratório ou capela. Para este fim mandamos nosso secretário, abaixo firmado, expedir este escrito, que tem nossa assinatura e nosso carimbo.

Roma, de nossa sede, no dia 29 de julho de 1858.

Os termos da bula sugerem que Gothardo era religioso, mas não conseguimos indicar sua instituição.

Outros relicários recordam preferencialmente o nome do santo e sua importância na história do cristianismo. Começam com Santa Ana, avó de Jesus, continuam com Zacarias do Templo, São João Batista, os apóstolos, Maria Madalena, os Santos Padres antigos, os fundadores de ordens, congregações e mosteiros, os papas, os bispos proeminentes, os mártires (M), os confessores (C), as Virgens (V), os doutores (D), antigos e não tanto; uma lembrança das mais importantes personalidades do cristianismo. Entre estes, o cristão poderia escolher o santo ou os santos, com os quais gostaria de se identificar, especialmente o santo do nome recebido no batismo. Assim ele se percebia membro do corpo da Igreja, cujos santos lhe serviam de exemplo, de protetores e intercessores junto a Deus e podia sentir-se na Comunhão dos Santos.  O acervo, que os reúne, possibilita ver as opções individuais e as coletivas.

Organizamos a lista dos santos em ordem alfabética pelo nome.

Santa Ana,
Santo André Apóstolo,
S. Afonso de Ligori,
Santo Agostinho, bispo,
Santo AntonioTab.
Santo Adeodato M.,
Santo Aurélio M.,
Santa Barbara V.,
São Basilio bispo e D.,
São Bento abade,
Santa Benedita V.M.,
São Boaventura,
Beato Bernardo de Fos. C.,
São Carlos bispo e D.,
Santa Clara,
São Camilo de Lelis,
Beato Carlos S.,
São Carlos de Seia C.,
São Clemente M.,
São Domingos C.,
P. Ducoudray,
Beato Egidio de Assis C.,
São Francisco,
São Francisco de Sales,
São Francisco de Paula,
São Florêncio M.,
São Felipe Nery,
São Gercino,
Santa Gertrudes,
Santa Helena,
São João Batista,
Beato Irmão Jordan Mai,
São José Pros e Jac. Kiliani bispo e M.
São João,
São João de Alverne C.,
São Juvenal,
Beata Krescentia v. Kaufb.,
São Leonardo de P. Maur. C.,
São Leopoldo,
São Liberato M.,
 Santa Maria Magdalena,
Santa M. Tereza,
Mártires de Treveris,
São Nicolau Myra bispo C.,
São Pancrácio,
São Paulo,
São Pedro,
São Pio X,
São Pio M.,
São Próspero M.,
B. Rodolfo Jo.,
São Roque C.,
São Sebastião M.,
Santa Sibila V.M.,
São Simplicio M.,
São Tadeo,
Santa Tereza,
São Tiago Apóstolo,
Santo Tomaz de Aquino,
B. Thomaz de Flor. C.,
Santo Urbano Papa e M.,
Santa Ursula V. M.,
S. Verônica,
São Vicente de Paula,
São Vital M.,
São Xisto Papa e M.,
São Zacarias.

Se, depois de olhar o sentido e função das relíquias, examinamos criticamente seu material, algumas vezes teremos de dizer que o objeto apresentado dificilmente corresponderia ao que dele se afirma, especialmente no que se refere a Jesus, Maria e José. Mesmo assim elas cumpriam sua função de memória e eram uma ponte para chegar ao santo e, através deste, a Deus.

O conceito de relíquia facilmente nos remete à Idade Média. No acervo não identificamos nenhum exemplar dessa época. Das bulas conservadas, a mais antiga é de 1803; trinta (30) são do período entre 1850 e 1900; dezoito (18) são de 1901 a 1950; só uma é de 1959. Elas foram trazidas na bagagem dos jesuítas, que, nesse tempo vieram ao Brasil para atender os imigrantes de sua origem. Eram sacerdotes conservadores, firmes opositores do movimento liberal do norte da Europa, que, por isso, os expulsou. Para eles, que vieram como missionários para o Brasil, as relíquias tinham sentido e continuaram cumprindo sua função. Eles eram pobres, muito pobres, como também eram as pessoas atendidas e as obras que empreendiam. Por isso poucas relíquias apresentam algum brilho; a quase totalidade é simples e funcional.

Para finalizar queremos apresentar uma relíquia muito bonita e significativa de tudo o que acabamos de dizer. Ainda não encontramos sua bula, mas ela seria semelhante àquele que estampamos. Certamente pertenceu a uma pessoa religiosa de algum destaque em sua comunidade, como poderia ser o diretor de um seminário, um provincial ou um professor de teologia. O envoltório é uma teca de madeira em forma de cruz. Numa face está esculpido, em madeira, o corpo de Cristo; no alto a representação de Deus Pai e do Espírito Santo; aos pés, sua Mãe com o coração transpassado por uma espada. Distribuídas pelo corpo da cruz, que é fechado por um vidro transparente, estão 16 relíquias, representativos dos primeiros tempos da Igreja Católica: São Pedro, a Santa Cruz, André, Urbano, Quintino, Modesto, Marta, Madalena, Bárbara, Catarina, Leão Magno, Leonardo, Benedito, Inocêncio, Valentino, Magno. 

Figura 7 Relicário, face externa.


Figura 8. Relicário, face ventral.

As relíquias tornam presente, de forma mais concreta que as estátuas, os quadros, as medalhas e os ‘santinhos’, a memória do santo, do evento ou do local com o qual a pessoa desejava se relacionar. Enquanto objeto religioso serviam de pontos para meditação e, quando bem usadas, se tornavam pontes que ligavam para Deus.

Você gostou? Um catálogo das relíquias estará disponível, dentro de algum tempo, na página do Instituto.

Texto: Profº. Drº. Pedro Ignácio Schmitz
Fotos: Acervo Instituto Anchietano de Pesquisas