segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Texto Coletivo do Grupo Viver sobre o passeio aos Museus na Unisinos


No dia 03 de setembro de 2018, nós do Grupo Viver do CAPS II Capilé, visitamos os museus da Unisinos: o Museu Anchietano e o Museu Capela. Neste dia, tinha muita chuva, mesmo assim o passeio foi bom e muito educativo. Já para Rogério, foi muito "molhativo", pois estava sem guarda-chuva e foi ao museu errado: Museu do Rio dos Sinos. Pra piorar, o museu estava fechado. Saímos do CAPS Fernanda, Nilmara e Maria Ernestina, motivadas para chegar logo no museu.

Não desistimos, pois tínhamos convicção que seria bom conhecer mais sobre as culturas antigas. Chegamos no trem e logo avistamos o Renato, que parecia preocupado mas foi só nos ver que abriu aquele sorriso, essa pessoa tão amiga. Pegamos o circular e chegamos na Unisinos. Lá encontramos a Cláudia, que ansiosa e pacientemente nos esperava. Ao nos deparar com a Unisinos, pensamos sobre a quantidade de pessoas que lá frequentam e encontram refúgio para seus estudos.

Fomos recepcionados pelo Márcio e a Denise, que são funcionários da Unisinos responsáveis pelos museus. O Márcio foi quem nos acompanhou o tempo todo para nos apresentar os museus. No Museu Anchietano, explicava com amor sobre cada objeto, cerâmicas, arco, flechas, panelas, construções, pinturas e imagens
referentes às culturas dos povos indígenas, principalmente da América Latina. O que chamou a nossa atenção foram as panelas grandes de cerâmica que quando velhas eram utilizadas como urnas funerárias para enterrar seus mortos, que dentro delas eram acocados. Também chamou a atenção o tamanho do arco e flecha original e as pinturas rupestres.

Foi muito importante esta visita para conhecer e respeitar mais as culturas indígenas, quebrando alguns paradigmas sobre as suas formas de convívio com a natureza. No Museu Capela, vimos os vestuários dos padres, jesuítas, bispos e papas. Havia imagens de santos, uma delas feita por um indígena, castiçais, cálices, um oratório e uma Bíblia toda escrita em latim. Nesse museu, chamou a atenção a pedra angular que certifica o sagrado à Igreja, a estátua de um menino, as esculturas em madeira, a lápide que parece um tijolo, a foto da ruína de São Miguel.

Foi interessante conhecer este museu para saber mais sobre os jesuítas, a importância que dão para o conhecimento e conhecer outro ponto de vista sobre a posição da Igreja na época da colonização. Tivemos a triste coincidência de nossa visita acontecer um dia após o trágico incêndio no principal Museu do Brasil, que destruiu toda sua estrutura e mais de 18 milhões de itens em seu acervo. Com isso, pudemos refletir a respeito da importância de que o Estado e as instituições deem o devido cuidado e investimento para manter a nossa história viva para o acesso de todos. Assim como, que todos os cidadãos reconheçam a importância dos museus e busquem conhecer a história a partir do ponto de vistas não apenas dos povos dominantes.

Por Adriele, Fernanda, Márcio, Maria Ernestina, Nilmara, Renato e Rogério


Atividade com argila realizada no CAPS

Objetivo: Tentar produzir releituras sobre os artigos vistos nos museus

Principal aprendizado: Obtivemos contato com a argila e atividades ancestrais. Pensávamos que seria fácil, mas encontramos dificuldades em fazer desde os artigos mais simples. Com isso, aprendemos a dar mais valor para o artesanato indígena, seus saberes e sua cultura.




Exposição de fotos



Grupo Viver!



Afetos/efeitos especiais (por Rogério)


Texto elaborado pelo Grupo Viver, do CAPS II Capilé. Para conhecer o grupo, acesse: http://grupoviver.blogspot.com/

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

A ESTÂNCIA MISSIONEIRA SÃO JOSÉ NOVO


Em 1731 foi criado, na parte meridional da estancia São José, um novo espaço de criação de gado, chamado São José Novo. Nesse espaço de 100 por 50 quilômetros, junto ao rio Arapey, seriam colocadas, inicialmente, 40.000 vacas que não seriam tocadas durante 8 ou 10 anos, esperando que sua reprodução, neste tempo, alcançaria um total de 200.000 animais.

A partir desse momento São José Novo se tornaria reserva de carne para o conjunto das reduções, onde qualquer uma destas poderia comprar os animais necessários, ao preço de 4 reais de prata por vaca.

Na Estância Santiago e na Estância São José (Queimada), além de gado vacum, se teriam criado cavalos, mulas, ovelhas e outros animais de pequeno porte. Com a especialização de São José Novo em gado de corte, se criaram para a reprodução destes animais, no lado argentino, em 1740, vários postos, cada um deles dedicado a uma espécie: ovelhas no posto de San Martin, cavalos no posto de San José, mulas de carga no de San Xavier, vacas leiteiras no de San Isidro, bois no de San Felipe e éguas nos de San Alonso y San Jorge. 

Estes postos, alinhados ao longo do rio Uruguai, passaram a ser, também, os pontos de parada e hospedagem dos tropeiros na rota do gado que, saindo das estâncias do lado oriental (São José e São José Novo), cruzava o rio num vau em rente à atual cidade argentina de Concórdia e levavam tropas de animais para as reduções situadas mais ao norte.

São José Novo, que ficava na República O. do Uruguay, e os postos da rota do gado, que ficavam na Argentina, ainda não foram visitados. Mas para eles conseguimos respigar informações ligadas a seus ocupantes, a suas atividades e a seu abastecimento na tese de H.S. Serres, 2018), que pesquisou relatórios deixados por superiores jesuítas. Livremente reproduzimos algumas dessas informações:

A administração da estância era responsabilidade do cabido da redução.

Segundo um Memorial do Padre Bernardo Nusdorffer, depois de visitar a São José Novo, em 31 de julho de 1744, moravam na estância um Irmão jesuíta incumbido da organização dos trabalhos, e um padre que não tinha residência permanente, mas periodicamente dava assistência espiritual aos moradores na capela da estância. Um e outro eram subordinados ao Cura da redução.

Para o serviço do irmão e do padre, o Superior das Missões deixou ordem que houvesse oito índios: dois pajens, dois para cozinha e padaria, um para a sacristia, um para a horta, um capataz e um velho.

Os índios estancieiros, que moravam na área de criação, se ocupariam exclusivamente com os rodeios e os trabalhos da estância, mas eram estimulados a, também, fazer alguma plantação para seu sustento.

Nusdorffer ordenou também que os da casa recebessem, cada ano, seis garrafas de vinho (para a missa), duas garrafas de sal, dois frascos de aguardente para remédio, quatro arrobas (60 Kg) de açúcar, uma bolsa de mel, um terço (tercio) de erva-mate para cada um, uma quantidade (carpeta) de doces. Supunha-se que colheriam ali mesmo o trigo e o milho necessários; caso contrário, eles seriam remetidos da redução.

Para os índios que estavam na casa e os da estância o P. Cura da redução enviaria a erva-mate e o fumo necessários, de maneira que para setenta índios, que estavam então na estância, seriam remetidas oitenta arrobas (1.200 Kg) de erva-mate e tanto fumo que ao menos tocassem dois maços (manoyos) para cada um, ao ano. A roupa necessária também seria dada pelo P. Cura, ou ele os vestiria quando visitasse a estância, ou a enviaria através do Irmão.

A vestimenta dos índios era muito simples. Os homens usavam camisa, jubão branco de algodão, ceroula, calça e poncho; as mulheres, um vestido largo e aberto. Sem sapatos e meias.

As estâncias tinham postos espalhados pelo território, especialmente por seus limites. Segundo a mesma tese de Serres (2018), um Memorial datado de 1762, sem assinatura e sem indicação a que estância se refere, dá uma ideia das pessoas desses postos. No Posto de Las Palmas, que só criava gado vacum, havia um capataz, mais três homens. No Posto del Bagual de Arriba, que também só criava gado vacum, havia um capataz, mais quatro homens.

No Posto del Bagual de Abajo, havia um capataz, mais 4 homens. No Posto del Rincón havia um capataz, mais seis homens. No Posto de la Carrada havia um capataz, mais seis homens e um rapaz. No Posto El Arreo, ou Casa, havia um capataz, mais quinze homens destinados ao campo. E mais 7 homens destinados a obras.

Na mesma estância estavam mais 3 velhos para acompanhar as carretas, 2 que distribuíam os couros para os cortadores, 2 sacristães, 6 meninos entre 3, 4 e 5 anos, 1 moço enfermiço, 1 cozinheiro. E ainda 34 mulheres casadas, 8 moças crescidas, 6 adolescentes, 5 mais novas e de colo, 2 meninas, ao todo 122 pessoas. Famílias.

Tanto ou mais gente, constituída por índios casados com suas famílias, teria havido na Estância de São José. Não ficou claro se eles vinham acompanhados por seus caciques nem quanto tempo eles ficavam fora do povoado e das atividades que neles se realizavam.


Fonte: Furlong, Cartografia, 1930, imagem Número XLIII.



































Postos criados em 1740 no lado argentino do rio Uruguai, que passaram a ser os lugares de parada na rota que levava animais das estâncias de São José e São José Novo para abastecer reduções necessitadas em território brasileiro, argentino e paraguaio.

Este é o começo de uma pesquisa e os elementos apresentados são pequenos fragmentos de uma história a ser contada. Se, na sua leitura, observar erros, ajude a corrigi-los.


Referência Bibliográfica

FURLONG Cardiff, G. Cartografia jesuítica del Río de La Plata. Buenos Aires: Talleres S.A. Casa Jacobo Peuser, Ltda, 1930.

SERRES, Helenize Soares. As estâncias missioneiras da Banda Oriental do Rio Uruguai. (Tese de Doutorado). 208 p. São Leopoldo, UNISINOS, 2018.

Organização das postagens sobre as estâncias missioneiras: Pedro Ignácio Schmitz.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

A ESTÂNCIA SÃO JOSÉ (Queimada) - Parte 2

As construções ocupadas pelos administradores da estância.

É um conjunto de três casas paralelas, com paredes de pedra, externamente sem reboco, internamente rebocadas talvez por ocupantes posteriores ao período missioneiro. A cobertura original teria sido de palha, parcialmente talvez de telha-canoa; hoje é de folha de zinco.

O forro de tábuas, sustentado por barrotes paralelos expostos, cuidado no acabamento. Nas reduções do Paraguai, este forro é de bambu coberto por uma camada de barro, para sustentar um telhado de telha-canoa. As aberturas e seus materiais também são característicos. Em passado não muito remoto, nas casas teria funcionado um bolicho de beira de estrada.

Duas dessas construções, amostras típicas da técnica construtiva das reduções, foram unificadas por uma taipa usando as pedras da terceira casa, da qual apenas sobrou um pano de parede. Assim, foi criado um pátio protegido. As casas continuam ocupadas. Seu interior ainda não foi estudado por respeito aos moradores.

Nos fundos existem currais fechados por taipas que, provavelmente, são relíquias do tempo das missões.


Imagem 1 - A primeira casa que tinha sido um bolicho de beira de
estrada e continua ocupada pelo dono.
Imagem 2 - Vista de conjunto. As duas casas do centro foram unificadas
fechando o espaço entre elas com uma taipa, usando as pedras da casa
arruinada. Para fazer sombra no descampado aparecem
novamente grandes árvores do umbu.
Imagem 3 - Vista lateral da primeira casa com típica da técnica missioneira.
A cobertura original, que teria sido de palha, foi substituída por folha de zinco.
Imagem 4 - Vista lateral da segunda casa.
Imagem 5 - A casa (ou igreja) arruinada.
Imagem 6 - O interior de uma das casas.
Imagem 7 - As taipas dos potreiros provavelmente ainda são antigas.


Fotos feitas na pesquisa de campo realizada pelo IAP em Janeiro de 2018, no território da antiga Estância referida.