sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

PEDRO IGNÁCIO SCHMITZ, APRENDIZ DE ARQUEÓLOGO

 2.Amostrando as antigas culturas indígenas do Rio Grande do Sul

 

Concluída minha formação religiosa e acadêmica, iniciei o trabalho aceitando sucessivos convites. 

 

A primeira provocação, mais geral, veio do fundador, então ainda presidente do IPHAN, Dr. Rodrigo Mello de Andrade. No fim do ano de 1965 ele me enviou um cheque para realizar levantamento arqueológico. Ele tinha em vista um cadastro nacional de sítios arqueológicos, como estava previsto na Constituição do Brasil. O cheque se repetiu durante dez anos e foi o primeiro financiamento de nossa pesquisa. Depois entrou o CNPq e a FAPERGS.

 

Comecei o levantamento, sozinho, sem rumo definido, em áreas próximas a São Leopoldo. Mas, já em 1967, se formou pequeno grupo de professores e alunos universitários de São Leopoldo, Novo Hamburgo, Caxias do Sul, Ijui e Rio Grande, com o propósito de dividir os espaços do Estado não reservados ao PRONAPA para serem trabalhados. No grupo estavam Fernando La Salvia (Caxias do Sul), Danilo Lazzarotto, Ilgenfritz (Ijui), Pedro Augusto Mentz Ribeiro e Maria Helena Abrahão Schorr (Novo Hamburgo), Guilherme Naue (Rio Grande), Itala Irene Basile Becker e P. I. Schmitz (São Leopoldo), que faziam os trabalhos de campo e de laboratório. Terminado o PRONAPA, se juntou à equipe também José Proenza Brochado 

 

Nós tínhamos poucos recursos e também pequeno controle metodológico. Os recursos foram aumentando com auxílios e bolsas do CNPq e também auxílio da FAPERGS, que se estava estruturando. E nos fomos apropriando da metodologia usada pelo PRONAPA. 

 

O PRONAPA se desenvolveu de 1965 a 1970 em espaços previamente reservados; ele tinha recursos adequados (carro, bolsas e dinheiro para a execução), além de metodologia rigorosamente controlada por Betty J. Meggers, coordenadora do Programa. No Rio Grande do Sul estavam ligados a ele Eurico Th. Miller (MARSUL) e José Proenza Brochado (UFRGS). 

 

Na primeira etapa da pesquisa (1965-1972) tornaram-se conhecidos sítios de caçadores da tradição lítica Umbu e suas gravuras em paredes de abrigos na borda do Planalto, aterros da tradição cerâmica Vieira em áreas alagadiças nos campos do Sul do Estado, casas subterrâneas com cerâmica da tradição Taquara no Planalto das Araucárias. Os sambaquis foram pouco abordados.

 

Para completar o quadro arqueológico, Ítala estudou a história dos sobreviventes coloniais desses grupos, representados pelos índios Kaingang do Planalto, os índios Guaranis das Planícies da bacia do Jacuí e os índios Charrua e Minuano dos campos do Sul.

Os relatórios foram apresentados nos Simpósios de Arqueologia da Área do Prata, organizados pelo Instituto Anchietano de Pesquisas (1967, 1968, 1969) e publicados em seus Anais (Pesquisas, Antropologia 16, 18, 20); também foram levados aos primeiros congressos nacionais. Nada ficou sem publicação.

Mostro umas fotos daqueles primeiros tempos 

 


Ítala Irene Basile Becker e Fernando La Sálvia na escavação de cerrito em Santa Vitória do Palmar (1969). 

 


Primeira escavação de casa subterrânea, em Santa Lúcia do Piai, Caxias do Suí: a ‘casa de Ítala’ (1968).

 


Escavação de pequeno abrigo em Ivoti com equipe do IAP. 



Schmitz, Ítala e Brochado escavando abrigo com gravuras, no vale do rio Jacuí (1972).


Gravuras do Estilo Pisadas do abrigo escavado.


Gravura do Estilo Pisadas no abrigo da Pedra Grande, escavado por Schmitz e Brochado na década de 1970. 



 
Pontas de projétil da tradição Umbu encontradas nesses abrigos rochosos.




Nas várzeas dos rios da bacia do Jacuí eram encontradas aldeias de Guaranis com a típica cerâmica denominada Tupiguarani.

 



Os principais atores sobreviventes do período: P.I.Schmitz (91) e

 Ítala I. Basile Becker (96)

 



Em 1972 já se vislumbrava um esboço da história indígen, pré-colonial e colonial do Estado. Tinha havido inclusive uma incursão em Treinta y Tres e um projeto de vários anos em Fray Bentos, ambos no Uruguay. 


A partir desse momento, durante anos, a pesquisa foi deslocada, primeiro, para os Cerrados do Brasil Central e a amostragem de suas culturas pré-coloniais e coloniais. Ela se espraiou para o Pantanal e depois para o sertão pernambucano.  Depois de trinta anos voltamos para o Sul.

 

É o que mostro em outras postagens. 


Texto e Imagens: Prof. Dr. Pedro Ignácio Schmitz

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