sexta-feira, 18 de junho de 2021

ESCULTURAS MISSIONEIRAS NA UNISINOS

Hoje são conhecidas mais de três mil estátuas de madeira, originárias das reduções da Província jesuítica do Paraguay. Elas se distribuíam abundantemente em igrejas e capelas, com o sentido de trazer os santos para a vida cotidiana dos moradores.

Os santos eram os do momento. Na coleção do Instituto Anchietano de Pesquisas, recolhidas nas reduções do noroeste do Rio Grande do Sul, há três esculturas do Arcanjo São Miguel, lembrando o conflito com os bandeirantes; quatro de jesuítas dos primeiros momentos da Ordem (duas esculturas de Santo Inácio de Loyola, uma de São Francisco Xavier, uma de São Luiz Gonzaga); uma escultura de Maria Imaculada; uma de Santo Antônio de Pádua; uma de Santo Izidro, que acompanhava o trabalho coletivo dos jovens no campo; o pastor de um presépio; uma cabeça de anjo; e uma grande cruz com o corpo de Cristo em tamanho natural, que era articulado e podia ser usado levantado na cruz ou deitado no caixão, nas cerimônias da Semana Santa.

Elas foram encontradas em antigas igrejas, capelas e casas, no início do século XX, quando ali se estabeleceram colonos de origem alemã, acompanhados de jesuítas. Não se consegue identificar quem, entre esses padres, recolheu qual estátua. Podem ter sido João Hafkemeyer, Ambrósio Schupp, José ou Max von Lassberg, João E. Rick, Luiz Gonzaga Jaeger, ou Balduíno Rambo, que as levaram ao Ginásio Conceição em São Leopoldo, o centro de atividade dos jesuítas, na época

Quando o Ginásio Conceição foi encerrado em São Leopoldo, e substituído pelo Ginásio Anchieta em Porto Alegre, na segunda década do século XX, algumas esculturas mais conservadas acompanharam a transferência: o grande Cristo crucificado, Francisco Xavier com bastão de caminhante e São Francisco Xavier morrendo entre os juncos de uma ilha chinesa. As demais esculturas ficaram em São Leopoldo, no Seminário que passou a ocupar o prédio do antigo Conceição, onde os jesuítas que administravam o Seminário continuaram morando e onde também se formavam seus estudantes. 

Quando, em 1942, os jesuítas deixaram de morar no Seminário e fundaram uma instituição para a formação de seus estudantes (o Colégio Cristo Rei), na periferia da cidade, as esculturas que ainda estavam no Seminário os acompanharam à nova instituição. As mais bem conservadas (a Imaculada Conceição e o São Miguel de Brasanelli) ficaram expostos em salas da nova instituição. O São Miguel maior (muito desconjuntado) foi dado ao Instituto Anchietano de Pesquisas e com ele migrou entre Porto Alegre e São Leopoldo.

As esculturas missioneiras reunidas pelos jesuítas adquiriram novo foco e valor a partir da terceira década do século XX, com a fundação do IPHAN, o levantamento feito nas Missões por Lúcio Costa, o restauro da igreja de São Miguel, a construção do Museu das Missões, a declaração como patrimônio público e, posteriormente, as escavações e mais atividades nas ruínas. Como consequência, na última década do século XX as esculturas reunidas pelos jesuítas foram juntadas no Instituto Anchietano de Pesquisas. Algumas estavam mais conservadas, outras muito deterioradas, faltando pedaços ou com as bases apodrecidas; algumas não eram mais que fragmentos de difícil identificação. Ali elas foram restauradas, à maneira italiana, por Suzana Cardoso, especialista indicada pelo IPHAN, que também providenciou seu registro nesse órgão nacional.

Pensando no seu valor e representatividade, podem-se distinguir claramente aquelas produzidas por escultores, locais ou europeus, outras são produto de ateliês indígenas que havia em todas as reduções maiores, outras, por fim, são mistas, juntando elementos comprados em ateliês europeus (especialmente cabeças e mãos de santos) com acabamento do resto do corpo feito nos ateliês locais. As mãos compradas eram só encaixadas na extremidade dos braços e, por isso, muitas se perderam; entre a cabeça e o resto do corpo também se percebe a descontinuidade e, muitas vezes se percebe a diferença na execução. Observando as esculturas cuidadosamente, você se dará conta. 

Com a recente transferência do Instituto Anchietano de Pesquisas dos prédios do centro de São Leopoldo para o Campus da Unisinos, todas as estátuas (menos a de São Francisco Xavier, que ficou na igreja do Colégio Anchieta, em Porto Alegre), ficaram expostas na sala de Memória Sacra, junto ao saguão da biblioteca dessa Instituição, onde são apreciadas por alunos das escolas da região, universitários e visitantes interessados. Você também é convidado.

A maior parte já apareceu em postagens anteriores. Nesta, resolvemos juntá-las novamente. Nas imagens a seguir só não aparece a cabeça de anjo e um fragmento de manto.



Um conjunto de esculturas; a partir da direita: Santo Inácio, a Imaculada, Santo Inácio, Santo Antônio, São Luiz Gonzaga, Santo Izidro lavrador, São Miguel, de vestir. No centro da imagem vislumbra-se a pequena escultura de São Francisco Xavier morrendo, ladeado pela cabeça de anjo e o fragmento de manto. 






Santo Inácio de Loyola, em traje de trabalho




A imaculada

 



Santo Inácio de Loyola, com vestes litúrgicas, em êxtase


Santo Antônio de Pádua.

 


São Luiz Gonzaga

 


Santo Izidro lavrador



 


São Miguel arcanjo, de vestir

  




O pastor de um presépio, ou o Bom Pastor



 


São Miguel arcanjo, de irmão Brasanelli


 


 

São Miguel arcanjo






O Crucificado, ladeado por Santo Izidro lavrador e São Miguel, de vestir. 

 

  

 

São Francisco Xavier, morrendo entre os juncos numa ilha da China.



 


Cabeça de anjo


Texto e Imagens: Prof. Dr.  Pedro  Ignácio Schmitz

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